Como você enxerga a sua adversária? Um pouco do meu papo com a Julia Boscher
Na última segunda-feira, eu bati um papo com a Julia Boscher para o #OpenMat lá no meu canal do YouTube. Vai ao ar só na próxima semana, mas entramos num assunto muito doido que eu queria compartilhar aqui antes de tudo.
Como você enxerga sua adversária?
Eu não quero dar spoiler de fato sobre o que a Ju falou, mas nesse papo, ela me disse que em um momento da vida, quando ela começou a se aprofundar mais e entender coisas sobre feminismo, empatia e sororidade, ela sentiu que 'afetou' a performance dela nos campeonatos. Não a performance em si, mas a forma com que ela via as adversárias.
Então ela saia de um campeonato depois de ter perdido, e na cabeça dela as coisas estavam: "ah, ok, ela merece muito também". E isso aconteceu algumas outras vezes sucessivamente, até que ela percebeu que precisaria mudar o mindset para sair na porrada. Ela também relembrou que, mais tarde, isso aconteceu com uma aluna. E ela tendo dividido isso comigo, me fez lembrar que também já passei por essa situação e esse é um dos motivos que, hoje em dia, eu evito 'ouvir histórias' sobre minha adversária antes da luta.
Já aconteceu de eu saber uma puta história triste de uma adversária que acabou virando minha amiga um pouco antes da luta. Entrei, perdi e sai falando que tava tudo bem, porque ela merecia muito e tinha se esforçado demais para estar ali. Eu inclusive minimizei o meu esforço.
Perder faz parte, de fato. Mas desde quando precisamos achar que uma derrota está 'tudo bem'? Achei até que era uma desculpa, mas tendo ouvido pessoas como a Julia que é uma puta referência no jiu-jitsu ter dito isso, eu vi que é normal. E então precisamos saber lidar com esse lance de sororidade vs competição.
Competição é algo que abrange muitas coisas. Quem compete sabe. É muito mais do que corpo, preparação física e técnicas afiadas. A mente manda em praticamente tudo. É claro que devemos ter respeito pelas nossas adversárias. Claro que não devemos entrar no tatame na maldade e na intenção de machucar. Mas queremos entrar para vencer e vencer implica em focar em você, na sua performance e na sua preparação para estar ali.
Algo importante que tenho para mim mesma é que eu treino e faço muito esforço para estar ali, fazendo algo que amo e que escolhi. Mas a minha adversária também. Então independentemente de qualquer coisa, a vitória é meritória e a derrota é consequência. Todas treinam para estar ali, afinal. Mas não existe duas campeãs de uma mesma categoria, certo?
Uma competição não envolve só o seu treino. Claro que você precisa se preparar, não adianta ficar comendo fast food, esquecer preparação física, treinar jiu-jitsu uma vez na semana e sair reclamando que perdeu a luta. Mas aquele dia... É aquele dia. Você pode acordar de TPM, você pode ter tido um problema com a família, você pode acordar desanimada... Como também pode acordar no seu dia. Então perder uma competição não te faz pior - mas se você curte a parada e quer seguir com isso, não deve se dar como satisfeita.
Tá, mas falei tudo isso para dizer que existem coisas que você controla e coisas que você não controla. E você precisa sempre se preocupar com aquilo que está sob seu controle. Isso é: seus treinos, sua alimentação, sua preparação, sua mente, sua vontade. E o que não está ao seu alcance, você descarta, porque não é sua responsabilidade.
É nossa responsabilidade como mulheres acolhermos novas mulheres, isso na competição, na academia ou na vida pessoal. É importante, sim, termos empatia, nos darmos forças... E creio que seja pela força que cada uma se dá e pela representatividade de cada uma na vida das outras, que hoje somos muitas e estamos nos multiplicando. Treinos femininos, eventos exclusivos para mulheres, professoras e líderes de equipe... Tudo isso faz parte da nossa união, ninguém fez por nós.
Mas dentro do tatame, durante aqueles 5, 6, 7, 8 ou 10 minutos que você vai lutar, é você contra você. Não é você contra a sua adversária, não é você contra o ego. É você contra você. E não falo que devemos odiar nossas adversárias, longe disso. Mas precisamos saber dosar, ter uma rivalidade saudável e ir pra cima.
Então empatia e sororidade são coisas que precisam ser entendidas. É fácil confundir e é muito fácil se perder. E é uma linha realmente tênue dar tudo de si porque você quer muito ganhar, ou não dar 100% por achar que sua adversária merece tanto quanto - ou mais - do que você. Todas merecem. Todas treinam. Todas querem. Mas só uma pode levar.
Também faz parte de uma desconstrução e de um mindset competitivo e isto é algo que cada uma só vai aprender com o tempo - e cada uma tem o seu tempo, aliás.
Do mais, é muito importante que a gente se fortaleça. Que a gente dê show nos campeonatos para cada vez mais atrairmos público para as nossas lutas, que a gente cada vez chame mais mulher para treinar, que a gente receba bem uma visitante ou uma nova aluna. E claro, que respeitemos as nossas adversárias nos nossos limites. Fora das quatro linhas, todo mundo é um ser humano comum. Mas lá dentro... É PORRADA! :)
Minha entrevista com a Julia vai estar disponível a partir da próxima semana no Jiu-Jitsu in Frames. Ficou animal!
Como você enxerga a sua adversária? Um pouco do meu papo com a Julia Boscher
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