“Tank for Trevor”: o tanking dos Jaguars em 7 atos
Que saudade de 2011. Uma NFL cada vez mais aérea e uma briga cabeça a cabeça para ver quem ficaria com Andrew Luck, o melhor prospecto do Draft na posição de quarterback desde que Peyton Manning recebera esse rótulo em 1998. Tal como Peyton, Luck foi draftado pelo Indianapolis Colts – que ficou com a primeira escolha geral do Draft de 2012 justamente após a pior campanha da NFL num ano sem o camisa 18, fora por lesão.
2020 apresenta uma narrativa parecida e já temos um favorito para ser premiado. Chama-se de tanking, nos esportes americanos, o ato de “perder de propósito” para ter uma escolha alta no Draft seguinte. É óbvio que jogadores e comissão técnica não o fazem, mas movimentações de diretoria de maneira cristalina demonstram isso e parece que estamos diante do fato em Jacksonville.
Primeiro ato: Jalen Ramsey trocado
Pistola com todo mundo, Ramsey percebeu que os anos de glória em Jacksonville estavam chegando ao fim antes que o pico parecesse ter chegado. A melhor defesa da NFL de 2017 foi sendo desmontada pouco a pouco e o golpe de misericórdia veio no desenrolar da temporada 2019, quando Ramsey foi trocado por duas escolhas de primeira rodada para os Rams – deve ter sido um dos dias mais felizes de sua vida, porque ele fez uma campanha extensa para que isso acontecesse.
Segundo ato: Tag em Yannick Ngakoue só para trocá-lo
Seguindo o modelo de tagar para trocar de Jadeveon Clowney-Houston Texans e mais ou menos na mesma pegada do caso acima, os Jaguars colocaram a franchise tag em Yannick Ngakoue em vez de renovar com o atleta. A renovação não seria possível porque o próprio Yannick não queria ficar em Jacksonville – e o time em nada ganharia comprometendo salary cap num jogador que seria bem caro para um time em reconstrução. Com a tag, ele teria contrato de um ano e os Jaguars ainda conseguiriam algo em troca caso houvesse equipes interessadas – o que demorou uma eternidade.
Terceiro ato: Nick Foles trocado
Depois que o esperado aconteceu – leia-se Nick Foles não era a Cinderella daqueles playoffs e a magia era insustentável – o Jacksonville Jaguars foi abençoado com uma oportunidade em Gardner Minshew. Com isso e a lesão de 2019, os Jaguars corretamente abortaram a missão e trocaram Nick Foles para o Chicago Bears – que acabou amortecendo boa parte do dinheiro garantido do contratão que Foles recebera de Jacksonville antes da temporada 2019.
Quarto ato: Calais Campbell trocado
Forte movimento que indica limpeza de casa é quando um veterano que ainda tem gasolina no tanque sai por uma bagatela. O Baltimore Ravens agradeceu e trocou apenas uma escolha de quinta rodada por Campbell, que aos 33 anos iria para o último ano de contrato com os Jaguars. Mesmo que seja barato – até em função de ser apenas um ano de contrato – é mais um movimento que demonstra com clareza a noção de que os Jaguars são vendedores e estão pensando no futuro.
Quinto ato: Nenhum quarterback é draftado e Doug Marrone é mantido
Poucos movimentos indicam mais um tank quanto não escolher no Draft um quarterback do futuro e/ou manter um head coach que já deu o que tinha que dar. Afinal, poucos princípios se aplicam nessa análise como “novos sistemas, novos quarterbacks”. A manutenção de Marrone indicava que os Jaguars dariam mais um ano para Minshew com o propósito de descobrirem o que têm nele – não faria nenhum sentido draftar um quarerback na primeira rodada para manter um técnico que provavelmente cairia ao final da temporada.
Sexto ato: Ngakoue finalmente é trocado (por migalhas)
No domingo, mais um ato de nossa novela. Yannick Ngakoue finalmente foi trocado. Como os meses passaram e o jogador perdeu precioso tempo de camp – somado ao fato de que o ano está tirando demanda de trocas em todos os esportes, dada a incerteza geral – o Jacksonville Jaguars não conseguiu quase nada em troca.
Uma segunda rodada e uma escolha condicional via Minnesota – 5ª se nada a seguir acontecer, 4ª se Ngakoue for pro bowler (bem provável) e 3ª se os Vikings forem campeões. Topar uma troca como essa só mostra como o processo de tank e implosão é a viga mestre do norte da Flórida para 2020.
Sétimo ato: Leonard Fournette é cortado após não haver mercado para troca
Não vou me estender no racional de valor de running backs no topo do Draft porque vocês já há algum tempo sabem minha opinião sobre o tema. Seja como for, mais um exemplo nesta semana, com o Jacksonville Jaguars cortando Leonard Fournette, jogador que draftaram no top 10 do Draft 2017. Mesmo sofrendo com lesões, Fournette foi responsável por 30% das jardas do time no ano passado. Mas 30% de pouco é menos do que pouco, certo? Então o time tentou lhe trocar.
Como esperado, não houve interesse dos outros times por um running back de força que raramente recebe passes – e os Jaguars tiveram que cortar o jogador e assim economizaram 4 milhões (embora 8M ainda fiquem presos na folha deste ano).
E o futuro?
Olhando no plantel de Jacksonville, há poucas boas peças. Myles Jack ainda é um sólido nome como inside linebacker e o EDGE Josh Allen (não confundir com o quarterback de Buffalo) foi bem no ano passado. Mas claramente é um time em reconstrução – pra não dizer tank – e agora resta saber o que o time tem em Gardner Minshew, que vem para seu segundo ano.
De uma forma ou de outra, a tendência é que os Jaguars tenham uma das cinco piores campanhas da NFL nesta temporada e, com isso, o top 5 do Draft 2021. Nele, podem escolher Justin Fields – quarterback de Ohio State, que não jogará em 2020 bem como toda a conferência Big Ten – ou realizar o sonho do Tank For Trevor (Lawrence), quarterback de Clemson.
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