Uma coisa é processo, outra é a Copa: Brasil decepciona e perde para ele mesmo no Mundial
O empate por 0 a 0 com a Jamaica nesta quarta-feira determinou a eliminação do Brasil na fase de grupos da Copa do Mundo feminina, algo que não acontecia desde 1995. Porém, é importante enfatizar que resultado em si é bem mais catastrófico do que a realidade desta equipe.
Hoje, há dois aspectos para se analisar o trabalho de Pia Sundhage, há quatro anos como técnica da equipe: o processo da Copa do Mundo e o desempenho na competição em si. E as avaliações são opostas entre si.
É bem verdade que a treinadora sueca tem contribuído para uma reformulação no futebol brasileiro feminino, uma boa integração com a seleção sub-20 e empolgou a torcida meses antes da Copa ao alcançar em abril os resultados mais destacados de toda sua passagem ao empatar com a Inglaterra na Finalíssima e ganhar da Alemanha. Ponto.
Essa parte foi totalmente contrastada com o que aconteceu nos últimos dias na Austrália, onde a seleção fez uma Copa bem abaixo do esperado, muito por conta de sua treinadora, mas sem eximir a responsabilidade de quem esteve em campo.
Ainda que o Panamá fosse um adversário frágil, a estreia foi positiva, com uma atuação dominante e boa qualidade no jogo, mesmo concentrando muito pelo lado esquerdo, de onde saíram os quatro gols da partida. A partir daí, a situação mudou drasticamente.
A postura passiva diante da França foi muito impactante. Não fosse Lelê no gol, o Brasil teria saído com um placar bem mais adverso do que o 1 a 0 no intervalo. As linhas estavam muito espaçadas, e a seleção não conseguiu competir, sendo sufocada pela rival desde o início, com enorme dificuldade para sair da marcação alta e sem conseguir replicá-la na fase defensiva.
O gol de Debinha, em uma rara boa jogada da equipe canarinho no sábado, mudou a dinâmica do jogo e fez o Brasil melhorar. Porém, tudo foi por água abaixo com um gol sofrido de forma inaceitável. Todo mundo sabe da força aérea de Wendie Renard na bola parada. Se você sofre um gol dela tentando limitar todas as possibilidades da zagueira, é uma coisa, mas definitivamente não foi o caso. Com toda defesa olhando a bola, Renard teve liberdade para cabecear na segunda trave sem nem precisar pegar impulso.
A atuação apática poderia ter sido superada depois de uma reação com o gol de Debinha, mas uma falha muito criticável definiu a derrota por 2 a 1. Um combo de erros da treinadora e do time. O resultado até acabou sendo dentro do esperado, o problema maior foi de que forma ele se construiu.
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Já nesta terça-feira, a questão diz respeito a resultado e desempenho. Como esperado, o Brasil controlou territorialmente com quase 72% de posse e teve mais volume de jogo (18 a 3 nas finalizações), mas esses números não são argumentos para justificar uma boa atuação. Com muitos erros de passes, concentração do jogo pelo lado esquerdo e demora em soltar a bola em muitas oportunidades, a equipe de Pia ficou travada por uma Jamaica que claramente veio com a postura de só se defender. E que se registre o mérito da Jamaica, que obteve enrome sucesso com sua estratégia: nenhum gol sofrido na fase de grupos, um gol marcado, seis finalizações no alvo e classificação inédita às oitavas em um grupo com duas seleções do top 10 do ranking da Fifa.
Na volta do intervalo, a técnica fez uma mudança. Bia Zaneratto precisava entrar e entrou, já que podia dar mais estatura para um Brasil que explorava o jogo aéreo, assim como para ser alguém para ajudar a construir em uma defesa fechada e com qualidade para trabalhar de pivô – o jogo forçou muito que Marta recebesse a bola de costas para o gol de forma constante.
No entanto, essa seria a única mudança até os 36 minutos do segundo tempo. Uma demora tremenda para uma equipe que não evoluiu na segunda etapa e que, com o tempo, até viu a Jamaica conseguir segurar um pouco mais a bola.
Os erros de passes, a falta de exploração do lado direito, a demora e os erros em tomadas de decisão fizeram com que o Brasil ficasse no 0 a 0 e sequer tenha forçado a goleira Rebecca Spence a realizar uma grande defesa.
Considerando os 15 jogos que o Brasil disputou desde a Copa do Mundo de 2011, este duelo com a Jamaica foi o que a seleção mais errou passes: 142. Na terceira colocação, está os 121 do jogo com a França dias atrás. O pódio ainda tem os 140 contra os Estados Unidos em 2011, ocasião em que o jogo foi maior, já que teve prorrogação.
É inegável a necessidade de maiores investimentos e de maior profissionalismo no futebol feminino do Brasil, e se precisa bater nessa tecla frequentemente. Porém, isso não impede que se critique o desempenho de um Brasil que esteve abaixo técnica, psicológica e taticamente nesta Copa do Mundo. Aliás, se podemos fazer críticas aos aspectos do jogo de forma justa é uma demonstração de que houve evolução do cenário atual da modalidade.
Outro aspecto para se ressaltar é que a realidade da seleção está longe de terra arrasada. Além disso, há equilíbrio na idade do elenco – são 17 jogadoras com no máximo 30 anos, sendo que 13 delas terão no máximo 30 anos na próxima Copa do Mundo.
A qualidade deste trabalho existe, mas não foi demonstrada na Austrália e na Nova Zelândia por diferentes pontos que devem ser discutidos e criticados. Temos um processo que precisa ser valorizado sob o comando de Pia, que vai além das quatro linhas e que conta com um bom entendimento com as atletas (Marta chegou a falar no melhor ambiente que teve em uma seleção em Copa do Mundo) e a busca por um time menos refém de individualidades. Porém, há também muitas críticas às escolhas neste Mundial e ao desempenho do time dela nos grandes torneios - e aqui entra os Jogos Olímpicos de 2020 e a Copa América de 2022.
Relembre as outras vezes em que o Brasil caiu na fase de grupos em Copas do Mundo feminina
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