Quais ligas americanas potencialmente sofrerão mais os impactos do coronavírus
Champions League com portões fechados, Six Nations com jogos adiados, Campeonato Italiano suspenso no mínimo até abril, Masters de Indian Wells cancelado. O mundo do esporte tem cortado na carne para lidar com a epidemia de coronavírus. Nas grandes ligas norte-americanas, a NBA foi a primeira: anunciou a suspensão da temporada até segunda ordem. Além disso, as autoridades de Seattle e San José proibiram eventos que reúnam milhares de pessoas nas suas cidades.
É questão de tempo para que medidas como essas sejam anunciadas em outras ligas nos EUA. E, no momento entre eu escrever esse texto e você lê-lo, é bem possível que haja já novidades. De alguma forma, todas serão atingidas. Mas em quais os impactos seriam maiores?
A resposta precisa não existe, pois ainda não se sabe qual será o ciclo da epidemia, principalmente a quantidade de pessoas infectadas e o tempo até ela ser controlada. Ainda assim, dá para estimar quais têm mais potencial para lidar com isso sem tantos problemas e quais sofreriam mais.
Veja abaixo, na ordem da que potencialmente sentiria menos para a que sentiria mais.
NFL e futebol americano universitário
A temporada do futebol americano, seja o profissional, seja o estudantil, tem seu início apenas em agosto e setembro. Se as medidas de controle dos Estados Unidos forem eficientes agora em março, é possível que o pico da epidemia já tenha passado no segundo semestre e já seja seguro realizar jogos com portões fechados ou com limitação na venda de ingressos.
Na NCAA, haveria um grande impacto na temporada da primavera, quando as equipes fazem a triagem de jogadores e treinam (em alguns casos, com grandes públicos -- e faturamento com bilheteria -- nos estádios) para a temporada regular. Seria uma perda de receita considerável e os times talvez tivessem uma preparação prejudicada, mas os jogos oficiais em si talvez fossem realizados sem tantos problemas.
Na NFL, a pré-temporada é bem mais curta e mesmo ela poderia escapar do período mais sério da pandemia. O problema maior seria no draft, programado para 23 a 25 de abril em Las Vegas. É bem possível que o evento seja realizado sem público ou mesmo ser realizado remotamente, com cada time trabalhando dentro de seus escritórios e os jogadores aguardando seus nomes vendo a TV de casa.
Ainda assim, a elite do futebol americano profissional e universitário ficaria longe do olho do furacão.
MLB
A Major League Baseball está prestes a começar. A pré-temporada está rolando e o início da temporada regular está marcado para 26 de março. É óbvio que o início da temporada será impactado, pois ocorrerá (ou deveria ocorrer, o tempo verbal pode mudar rapidamente) bem no momento em que os norte-americanos estão tomando as medidas mais drásticas para evitar o aumento da epidemia. E isso não é pouca coisa, pois o Opening Day é um dos dias mais importantes no calendário da MLB, com todos os estádios cheios e calendário feito para o beisebol dominar o dia na TV americana.
Isso posto, a MLB teria muita capacidade de absorver o “fechamento” dos EUA (as pessoas ficarem prioritariamente em casa, só atividades fundamentais funcionarem normalmente) se ele durar dois ou até três meses. A temporada regular tem 162 jogos e há poucos dias livres para remarcar eventos adiados, mas não é preciso refazer a tabela inteira. Como os times podem jogar vários dias seguidos sem problema, é bem possível realizar uma temporada regular de 90 a 100 jogos em quatro meses ou de 80 jogos em três meses. Seria um campeonato legítimo pela grande amostragem de jogos e que chegaria aos playoffs em outubro, quando talvez não haja tantas restrições a grande aglomerações.
E o Opening Day? Bem, a MLB deve adiar o início da temporada. Mas ela começaria seus jogos quando fosse seguro realizá-los com portões fechados ou apenas quando houver condições para venda de ingressos? Para preservar o imaginário da abertura da temporada do beisebol, a liga teria bons motivos para esperar o momento em que poderá vender ingressos. Dependendo do caso, até poderia ser um marco sentimental ao público americano do “momento em que as pessoas voltarão a sair de casa”.
MLS
O cenário é semelhante ao da MLB. A temporada teve duas rodadas realizadas e talvez tenha de suspender a temporada por um tempo. Ainda assim, ela tem como absorver sem tantos traumas. Por exemplo, na temporada regular os times se enfrentam em ida e volta dentro de suas conferências e em ida com dez times da outra conferência. Dependendo de quanto tempo durar o “fechamento” dos EUA, bastaria adaptar a tabela e excluir os jogos interconferências, o que reduziria o calendário das equipes em dez jogos e manteria a legitimidade esportiva da classificação para os playoffs.
A MLS só não tem um cenário tão confortável quanto a MLB porque teria boa margem para absorver só dois meses de interrupção. Mais que isso, precisaria ganhar outras datas, eventualmente cancelando a US Open Cup (Copa dos EUA), reduzindo o intervalo entre jogos no segundo semestre ou mesmo cortando uma fase dos playoffs.
NHL
Minutos depois de a NBA anunciar a interrupção da temporada, a NHL emitiu um comunicado dizendo que estava ciente do ocorrido no basquete, que consultaria especialistas e avaliaria as opções, eventualmente apresentando alguma novidade nesta quinta. Quando você ler esse texto, talvez a temporada já tenha sido suspensa também.
A situação na NHL tem uma ligeira vantagem sobre a NBA por ter uma presença canadense muito mais forte. Não apenas na quantidade de times na parte norte da fronteira, mas também do número de fãs. O canadense gasta mais que o dobro com a NHL que o americano. E a situação no Canadá é, por enquanto, mais controlada do que nos EUA (117 casos confirmados de covid-19, contra 1.312).
Ainda assim, a NHL teria um problema sério a resolver: uma interrupção neste momento afetará duramente a reta final da temporada regular e os playoffs (previstos para começar em 8 de abril). Se a temporada for suspensa, possivelmente os playoffs serão empurrados para frente, com possibilidade de realizar alguns jogos -- sobretudo nas primeiras fases -- com portões fechados e até reduzir as séries para acelerar a decisão, saindo do melhor de sete jogos para melhor de cinco ou mesmo melhor de três. Ainda assim, a decisão poderia ficar para o meio do verão e talvez atrasasse o início da próxima temporada para respeitar um período mínimo de férias dos jogadores.
Tecnicamente não há problemas em jogar no gelo no meio do verão, mas certamente a liga gostaria de evitar esse cenário.
NBA
Cenário muito parecido com o da NHL. As temporadas são quase simultâneas, com o basquete ficando uma semana e meia atrasado: os playoffs estão programados para começar em 18 de abril e terminar em 21 de junho. Isso pode fazer diferença na hora de acomodar a reta final da temporada no calendário após a retomada dos jogos, pois poderia invadiria o draft, programado para 25 de junho, e os Jogos Olímpicos, que devem ser adiados, mas ainda têm 24 de julho como data oficial de abertura.
Se isso acontecer, a NBA dará uma banana ao COI e a Olimpíada que se vire sem os jogadores da liga norte-americana. Mas também será um cenário desconfortável para o basquete e que poderia afetar o início da próxima temporada, como no caso da NHL.
XFL
A XFL teve uma temporada mal sucedida em 2001 e esperou 19 anos para retornar. Tudo para planejar direito e ter o cenário de mídia, torcida e investidores adequado para prosperar. O início da nova tentativa é oscilante, com média de público e de audiência de TV aceitáveis, mas sem convencer completamente. Até porque a sensação é de que as arquibancadas estão mais vazias do que indicam os borderôs de alguns jogos.
Tudo o que a XFL não precisa é de uma interrupção de sua temporada -- ou partidas de portões fechados -- justo quando chegaria na sua reta final e a atenção do público poderia aumentar. Em um cenário pessimista, isso poderia ser fatal para o futuro da liga, mas o mais realista é imaginar que pode tirar o embalo e prejudicar a temporada quando for reiniciada. Ou talvez nem seja encerrada e a edição de 2021 se transforme no retorno definitivo da XFL.
Basquete universitário
É o caso mais dramático. A temporada está nos playoffs de conferência, que ajudam a definir os times que disputarão o torneio que define o campeão nacional. A NCAA resiste em interromper seu calendário e anunciou que essa etapa será realizada com portões fechados, no máximo alguns familiares de jogadores terão permissão para acompanhar as partidas nos ginásios.
Já há muita contestação sobre essa decisão, mas se tornará insustentável no March Madness. O supermata-mata do basquete universitário é um dos principais eventos do calendário esportivo americano, gerando bilhões de dólares. Realizar o torneio com portões fechados seria uma perda imensa de faturamento e de imagem, pelos jogos frios diante de assentos vazios. Adiá-lo seria complicado pois poderia cair para o período de final de ano letivo para os jogadores-estudantes e ainda prejudicar a preparação de muitos para o draft da NBA.
Há quem considere a possibilidade de a temporada terminar sem que se defina o campeão nacional.
Fonte: Ubiratan Leal
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