Após Paulista e Brasileiro, meninas do Centro Olímpico conquistam o continente

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro

COTP premiação Paraguai
COTP premiação Paraguai Reprodução/Conmebol

“Eu sou de um time que não entra só quem quer/
A raça é muito grande, jogamos pra valer/
Eu tenho uma mania que já era tradição/
De nunca se entregar e nem cair ao chão/
Centro Olímpicoooo”

Quem acompanha as equipes do Futebol Feminino do Centro Olímpico nas competições certamente já se deparou com esse grito de guerra. E elas não cantam ele à toa, cantam só quando são campeãs. Mas como no caso estamos falando da base mais vitoriosa do Brasil nos últimos anos, a cantoria virou recorrente, e eu mesma já decorei a música de tanto escutar (e cantar junto, é claro!).

O exemplo mais recente e emblemático dessa enxurrada de conquistas veio no último sábado, em solo paraguaio: a equipe sub-14 do Centro trouxe pra casa o caneco do torneio que as próprias jogadoras “apelidaram” de Libertadores.

Seguindo os moldes da Libertadores na década de 1960, foram reunidas as 10 campeãs nacionais das confederações filiadas à Conmebol (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela) para a disputa da segunda edição da Fiesta Sudamericana de la Juventud, torneio promovido pela Conmebol com o intuito de fomentar o futebol de base na América do Sul, feminino e masculino. Os jogos rolaram entre os dias 25/01 e 02/02 em Assunção, no Paraguai, com direito a festa no Centro de Convenções e visita ao Museu da entidade sulamericana.

O representante do Brasil na categoria sub-14 foi o Centro Olímpico, que conseguiu a vaga em dezembro do ano passado ao sagrar-se campeão brasileiro em cima do Fluminense. Após uma campanha impecável, as meninas do Centro bateram as cariocas nos pênaltis e entraram de férias já com a cabeça na viagem para o Paraguai, como conta a capitã do time, Julia Brito:

“Não foi o nosso melhor jogo, a gente tava bem nervosa, tanto que acabou indo pros pênaltis. Quando acabou e saímos de férias eu não via a hora de voltar a treinar e começar a preparação pra Libertadores”.

COTP comemoração Paraguai
COTP comemoração Paraguai Arquivo Pessoal

A campanha no Paraguai

O Centro Olímpico caiu no grupo B, que tinha como cabeça de chave a equipe da casa, a Selección Estudiantil de Ñeembucu, além da SecaSports (Venezuela), Iquique (Chile) e Lavalleja (Uruguai).

O jogo de estreia do time brasileiro foi contra as venezuelanas. Debaixo de um sol de 37 graus, as meninas fizeram um jogo muito disputado e venceram o SecaSports por 4x3. Passado o nervosismo da estreia, as atletas do Centro conseguiram mostrar que a união entre elas e a preparação feita com muita competência por toda a comissão técnica fariam a diferença no placar: com duas goleadas, 6x0 contra o Iquique e 5x0 contra o Lavalleja, se classificaram para as semifinais com uma rodada de antecedência.

“Eu acreditava bastante no nosso time e a comissão nos deu vários vídeos para conhecermos as equipes adversárias, então eu tava bem confiante. Nosso time se entende muito bem dentro de campo, temos muita união e principalmente muita vontade de ganhar” – conta com alegria na voz a capitã Julia Brito, que se orgulha de poder ser um ponto de referência para as colegas de time – “Elas sempre vem me pedir ajuda, dentro e fora de campo, e eu tenho conseguido ajuda-las”

Na semifinal, o adversário foi a equipe do Espuce (Equador), que pouca resistência ofereceu, permitindo mais uma goleada para o Centro (5x0) e a vaga na grande final.

A decisão foi entre as duas melhores campanhas da competição, Centro Olímpico e Liga Antioqueña (Colômbia). Mais confiantes do que nunca, a equipe do Brasil não deu chances às adversárias colombianas, vencendo por 3x1 e levando junto com o título os prêmios individuais de melhor goleira (Isabella Cruz), melhor jogadora (Milena Ferreira) e artilheira (Milena Ferreira).

Mais do que um time de camisa, um time referência

O desempenho e os resultados da equipe no sulamericano foram tão positivos que surpreenderam os próprios organizadores da competição, os quais convidaram o supervisor técnico do clube, Rodrigo Coelho, a palestrar em um curso de treinadores da Conmebol que acontecia concomitante à competição.

A conquista do campeonato continental coroa uma geração muito vitoriosa e histórica no futebol brasileiro de base, que também conquistou o último Campeonato Paulista sub-14 (2018), o Campeonato Brasileiro sub-14 (2018) e o Mundial sub-12 (2017).

“Nós conversamos muito com as meninas sobre a importância do campeonato e estabelecemos com elas dois objetivos: o primeiro era ser campeão, claro, e o segundo era ir para a Disney, já que várias não tem condições de sair do país e mereciam isso. Elas tem entre elas isso de querer dar o melhor uma para as outras, não só para vencerem, mas para poder ajudar em outras coisas. Essa motivação mais pessoal acaba sendo uma corrente que as deixa mais próximas e mais fortes”, conta o treinador da equipe Douglas Matsumoto.

Com o título, o Centro Olímpico conquistou o direito de disputar a Disney Cup em Orlando, nos Estados Unidos, em julho de 2019. Algo me diz que o Brasil estará muito bem representado por esse grande clube e por essas pequenas grandes atletas.

COTP campeão Paraguai
COTP campeão Paraguai Arquivo Pessoal

(Agradecimento especial às famílias das atletas campeãs Julia Brito, Luisa Fontes e Manuela Gorny pelo carinho ímpar comigo desde que tive a sorte de participar um pouquinho da vida dessas meninas incríveis. Grande beijo!)

Fonte: Júlia Vergueiro

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O que eu aprendi jogando bola no país das tetracampeãs mundiais

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro

Futebol Feminino St Thomas Aquinas 2006
Futebol Feminino St Thomas Aquinas 2006 Arquivo Pessoal/Júlia Vergueiro

Em 1972, enquanto o futebol feminino ainda era proibido no Brasil, nos Estados Unidos estava sendo aprovado o “Title IX” (title nine), uma lei federal cujo principal objetivo era coibir qualquer tipo de discriminação baseada em gênero em todos os programas educacionais do país.

"No person in the United States shall, on the basis of sex, be excluded from participation in, be denied the benefits of, or be subjected to discrimination under any education program or activity receiving Federal financial assistance."

Traduzindo: "Nenhuma pessoa no território dos Estados Unidos, baseada no sexo, deve ser excluída de participar, ser impedida de receber benefícios ou ser submetida a discriminação em qualquer programa de educação ou atividade que receba assistência financeira federal".

A primeira grande diferença do que vemos por aqui e por lá já começa na forma como os norte-americanos enxergam a prática esportiva. Lá, o esporte é considerado uma atividade educacional, e por isso qualquer regra que se aplica à educação, consequentemente vale para o esporte. No Brasil, ainda existe uma noção estúpida de que essas atividades são excludentes: ou você estuda ou você vira atleta.

As bolsas de estudo esportivas são essenciais para que as meninas tenham a sua dedicação ao esporte reconhecida e valorizada. Elas sabem que o desempenho dentro de campo pode ser crucial na definição do nível de universidade que irão cursar.

E se tem uma coisa que funciona de verdade por lá é a tal da meritocracia. Eu fiz seis meses de intercâmbio nos EUA durante o colegial, e logo nos primeiros dias fui à escola para decidir quais matérias eu queria participar naquele semestre. Exatas, humanas, biológicas, línguas e, claro, esporte – eram inúmeras opções do que eu poderia escolher praticar durante aquela temporada. Obviamente, fui para o futebol, e lembro que nos primeiros jogos já escutava algumas pessoas gritando “Ronaldinha” e “Brasil, Brasil” das arquibancadas. Como torcida, eles estavam empolgados em ter uma brasileira no time, mas a comissão técnica jamais se deixaria levar por isso, e eu precisei conquistar meu espaço como qualquer outra menina.

Grito de guerra no treino
Grito de guerra no treino Arquivo Pessoal/Júlia Vergueiro
Comemorando vitória no campeonato
Comemorando vitória no campeonato Arquivo Pessoal/Júlia Vergueiro

Nos treinos, era muito claro de ver o respeito e a admiração que as “bixetes” tinham pelas veteranas. Desde pequenas elas já são acostumadas a ter jogadoras como suas ídolas, a torcer por suas pares e a almejar estar ali no futuro. Lembro de me divertir muito com a cultura de time que existia entre as meninas. Antes de todos os jogos tínhamos o nosso ritual de fazer tranças nos cabelos umas das outras, e quando entravamos em campo fazíamos sempre o mesmo aquecimento, coletivamente e muito organizado, e sem nunca perder o lado divertido da coisa.

Fora dos dias jogos, era rotina nos reunirmos nas casas das famílias das colegas de time. As mães das jogadoras (famosas “soccer moms”) morriam de orgulho das suas atletas e faziam questão de tratar a todas como suas filhas. Era muito mimo, mas que no final trazia a nós, jogadoras, o senso de responsabilidade necessário para nos dedicarmos aos treinos e competições. Queríamos agradecer por todo o apoio, e o que tínhamos a oferecer era dar o nosso melhor em campo.

Voltando à lei de 72, é importante ressaltarmos que, diferente do Brasil, nos EUA a maioria das universidades recebe algum tipo de apoio federal, inclusive as instituições privadas. Então não foram só as faculdades “públicas” que tiveram que seguir a nova regra: ela vale para todo e qualquer programa ou atividade educacional que recebe ajuda financeira do governo.

Em resumo, os itens do Title IX que se aplicam ao esporte podem ser divididos em:

Participação: o Title IX exige que mulheres e homens tenham as mesmas oportunidades para praticar esportes. A lei não obriga as instituições a oferecerem o mesmo esporte, mas sim a mesma chance de jogar.

Bolsas: ambos estudantes-atletas femininos e masculinos devem receber bolsas de estudo esportivas proporcionais à sua participação na respectiva modalidade

Outros benefícios: equidade de tratamento no que diz respeito a equipamentos, agenda de treinos e jogos, ajuda de custo com viagens e alimentação, acesso a profissionais de apoio psicológico, acesso a vestiários e estruturas de treino e jogo, acomodação, publicidade e propaganda, etc

Pra mim, a lição é muito clara: quando todo um sistema é estruturado em cima do conceito de equidade de oportunidades e de valorização do esporte como ferramenta educacional, não é preciso mais depender de “quem gosta do futebol feminino” para fazê-lo acontecer. O sucesso inquestionável da seleção norteamericana é a prova de que vale – e muito – a pena investir no potencial das meninas e mulheres, e enquanto outras nações não se derem conta disso, seguirão assistindo e aplaudindo mais e mais títulos das conterrâneas de Morgan e Rapinoe.

Jogando campeonato colegial nos EUA
Jogando campeonato colegial nos EUA Arquivo Pessoal/Júlia Vergueiro
Plaquinha feita pelas colegas de time
Plaquinha feita pelas colegas de time Arquivo Pessoal/Júlia Vergueiro
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Um desabafo pessoal: não é sobre mudar o técnico, é sobre mudar uma cultura inteira

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro
Marta aponta para a 'chuteira da igualdade' após marcar gol
Marta aponta para a 'chuteira da igualdade' após marcar gol PASCAL GUYOT/AFP

Estou muito orgulhosa da nossa seleção. Ontem, logo após a eliminação, falei e escrevi bastante sobre isso, mas agora preciso desabafar.

Taticamente, o Brasil teve um desempenho excelente. Neutralizamos um dos melhores ataques dessa Copa do Mundo e jogamos de igual para igual contra uma das principais favoritas ao título. Antes da partida, quando publiquei a escalação brasileira divulgada pela CBF, vi enxurradas de críticas à comissão técnica por não começar com a Andressinha. Mas em poucos minutos de jogo ficou clara quão necessária era a função de Ludmila e Debinha pelos lados do campo, segurando as principais armas francesas e apostando no contra-ataque nas costas delas. O mérito é apenas da Ludmila e da Debinha? Ou é também da comissão que estudou a equipe adversária e por isso as instruiu a jogarem assim?

Não foram poucas as jogadoras que perdemos por lesão ou por estarem abaixo do nível físico necessário para a Copa do Mundo - Rafaelle, Bruna Benites, Adriana, Erika e Andressa Alves são nomes que fizeram muita falta a essa equipe, ainda mais em um jogo longo como o de ontem, no qual a reposição de peças à altura era essencial para mantermos a qualidade e a proposta tática. Soma-se a isso à baixa disponibilidade que ainda temos de jogadoras de altíssimo nível no Brasil, uma vez que o trabalho no futebol de base feminino aqui é quase nulo. Não se pode negar que diante desse cenário a tarefa de construir uma equipe capaz de fazer frente a times como França, Estados Unidos e Inglaterra, é no mínimo desafiadora.

O futebol é um jogo coletivo, e todo mundo que já disputou um campeonato sabe quão relevante e indissociável é a influência da comissão técnica no desempenho de qualquer equipe. A meu ver, não existe isso de “se perder é culpa do técnico, se ganhar é apesar dele”.

Eu também não concordei com a saída da Emily do comando da seleção. Eu também fiquei indignada de ver que a CBF não tinha sequer justificativas plausíveis para demití-la. Se tinha, não as trouxe à tona, mas a verdade é que por desempenho, por estilo de trabalho e por autoridade junto às jogadoras, ela merecia no mínimo a oportunidade de continuar.

Obrigada, seleção
Obrigada, seleção Getty Images

No entanto, o fato de ela ter sido injustamente demitida não é motivo para que o trabalho do técnico que veio a substituir seja também injustamente avaliado. Muitas pessoas da imprensa e personagens do universo do futebol feminino estão fazendo com o Vadão o que a CBF fez com a Emily – julgando competência por meio de resultados e de personalidade. Quão justo é você dizer que um treinador não se importa com a equipe só porque ele não esboça reações emocionais na beira do campo? Se a nossa seleção encheu tanto os brasileiros de orgulho nessa Copa, será mesmo que não existe qualquer mérito da comissão técnica que mereça ser destacado?

Repito: eu também prefiro uma mulher no cargo de treinadora da seleção feminina. Eu mesma faço questão de só contratar treinadoras mulheres no meu próprio clube, por inúmeros motivos. Mas assim como me incomoda saber que qualquer pai ou mãe das minhas alunas está colocando em xeque a competência das minhas funcionárias por causa de gênero, orientação sexual ou a forma como elas falam ou se vestem, também fico indignada que isso aconteça na relação imprensa-seleção. Em muitos dos casos, as pessoas que tanto criticam nunca sequer estiveram presencialmente em um treino dessa seleção comandada por Vadão.

Outros países entenderam que é possível formar grandes atletas e grandes equipes mesmo sem ter o "dom natural" com a bola. Aqui, a maioria ainda não entendeu isso. E muitos que já entenderam ou não sabem como aplicar as mudanças necessárias ou não possuem as ferramentas para isso. Esse desafio cabe tanto aos times femininos como aos masculinos.

É preciso criticar? Sim, sempre. Temos muito a melhorar como modalidade e como Confederação? Demais. Mas assim como nós clamamos por respeito às nossas jogadoras, treinadoras, jornalistas, árbitras, gestoras e a todas as mulheres que trabalham no futebol, também precisamos respeitar. Também precisamos olhar e avaliar todos os envolvidos sem pré-julgamentos e buscando ouvir ambos os lados de cada história. Não é sobre clube da Luluzinha ou clube do Bolinha, é sobre o profissionalismo de que o nosso futebol, a nossa impresa, e todo o nosso país precisa mais do que nunca. Se queremos voltar a ser potência no masculino e buscar ser potência no feminino, é a postura de todos nós que precisa mudar. 

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Copa do Mundo feminina de futebol terá jogos exibidos no Museu do Futebol

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro
Andressa, Cristiane e Marta estarão em campo pela seleção brasileira
Andressa, Cristiane e Marta estarão em campo pela seleção brasileira Getty

A Copa do Mundo de Futebol Feminino da FIFA, realizada entre 7 de junho e 7 de julho, na França, terá jogos exibidos no Museu do Futebol – instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo. Com telão e arquibancada para cerca de 100 pessoas, o Museu recebe torcedores brasileiros e estrangeiros para vibrar por suas seleções. 

A estreia do Brasil é no domingo, dia 9 de junho, contra a Jamaica, às 10h30. Nesse dia, nossas alunas do Pelado Real FC estarão na arquibancada do Museu junto com os personagens da Turma da Mônica. Também assistirão ao jogo integrantes da União Brasileira de Mulheres (UBM) e do Movimento Toda Poderosa Corintiana. Com direito até a roda de samba, o primeiro jogo da Seleção promete agitar o Museu do Futebol.

2019 já é um marco para a história do Futebol Feminino. Pela primeira vez, os jogos do Mundial serão transmitidos pela TV no Brasil. E quem vier torcer no Museu também poderá conferir a exposição CONTRA-ATAQUE! As Mulheres do Futebol que narra a história do futebol feminino no país, que foi proibido por cerca de 40 anos entre as décadas de 1940 e 80 até as conquistas mais recentes.

“A exposição exalta esse momento e narra como foi o caminho trilhado pelas mulheres para chegar até aqui. O reconhecimento de suas lutas deve ser fonte de inspiração às novas gerações” afirma a diretora de conteúdo do Museu do Futebol, Daniela Alfonsi.

Carol Anjos, atleta do Centro Olímpico, visita a exposição Contra-Ataque
Carol Anjos, atleta do Centro Olímpico, visita a exposição Contra-Ataque Arquivo Pessoal

O ingresso para o Museu dá direito a ver a exposição temporária CONTRA-ATAQUE! As Mulheres do Futebol e a assistir aos jogos do dia. Às terças-feiras o Museu tem entrada gratuita.

Confira abaixo a programação de todos os jogos que serão transmitidos no Museu do Futebol:

Sala Jogo de Corpo

 7/6 - Sexta

16h França x Coreia do Sul (Grupo A)


 8/6 - Sábado

10h Alemanha x China (Grupo B)

13h Espanha x África do Sul (Grupo B)

16h Noruega x Nigéria (Grupo A)


9/6 - Domingo

10h30

Brasil x Jamaica

13h Inglaterra x Escócia (Grupo D)

 

11/6 - Terça

10h Nova Zelândia x  Holanda (Grupo E)

13h Chile x Suécia (Grupo F)

16h Estados Unidos x Tailândia (Grupo F)

 

12/6 - Quarta

10h Nigéria x Coreia do Sul (Grupo A)

13h Alemanha x Espanha (Grupo B)

16h França x Noruega (Grupo A)

 

13/6 - Quinta

13h Austrália x Brasil (Grupo C)

16h África do Sul x China (Grupo B)

 

14/6 - Sexta

10h Japão x Escócia (Grupo D)

13h Jamaica x Itália (Grupo C)

16h Inglaterra x Argentina (Grupo D)

 

15/6 - Sábado

10h Holanda x Camarões (Grupo E)

16h Canadá x Nova Zelândia (Grupo E)

 

16/6 - Domingo

10h Suécia x Tailândia (Grupo F)

13h Estados Unidos x Chile (Grupo F)

 

18/6 - Terça

16h Itália x Brasil (Grupo C)

 

19/6 - Quarta

16h Japão x Inglaterra (Grupo D)

 

20/6 - Quinta

13h Holanda x Canadá (Grupo E)

16h Suécia x Estados Unidos (Grupo F)

 

22/6 - Sábado

12h30 1ºB x 3ºACD - Oitavas de final (jogo 7)

16h 2ºA x 2ºC - Oitavas de final (jogo 1)

 

23/6 - Domingo

12h30 1ºD x 3ºBEF - Oitavas de final (jogo 2)

 

25/6 - Terça

13h 1ºC x 3ºABF - Oitavas de final (jogo 5)

16h 1ºE x 2ºD - Oitavas de final (jogo 6)

 

27/06 - Quinta

16h Vencedor do jogo 1 x Vencedor do jogo 2 - Quartas de final (I)

 

28/06 - Sexta

16h Vencedor do jogo 3 x Vencedor do jogo 4 - Quartas de final (II)

 

29/6 - Sábado

10h Vencedor do jogo 5 x Vencedor do jogo 6 - Quartas de final (III)

13h30 Vencedor do jogo 7 x Vencedor do jogo 8 - Quartas de final (IV)

 

2/7 - Terça

16h Semifinal Vencedor do jogo I x Vencedor do jogo II

 

3/7 - Quarta

16h Semifinal Vencedor do jogo III x Vencedor do jogo IV

 

6/7 - Sábado

12h Decisão do 3º lugar

 

7/7 - Domingo

12h Final

Serviço:
Praça Charles Miller, s/nº São Paulo, SP
Terça a domingo, 9h às 17h (visitação até as 18h)
R$ 15 | Meia-entrada: R$ 7,50 | Entrada gratuita às terças-feiras
* Horários diferenciados de funcionamento em dias de jogos no Estádio do Pacaembu. Consulte o site museudofutebol.org.br.
* Estacionamento com Zona Azul (R$ 5,00 válido por 3h). Mais informaçõesno site da Companhia de Engenharia de Tráfego – CET.


Fonte: Júlia Vergueiro

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Google lança plataforma digital para resgatar a história não contada do futebol feminino no Brasil

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro
Decreto-lei impediu a prática do futebol feminino por quase 40 anos
Decreto-lei impediu a prática do futebol feminino por quase 40 anos Acervo Museu do Futebol

Há alguns meses, uma agência me chamou para uma conversa sobre futebol feminino. Eles estavam pensando em ideias de campanhas e/ou ações para um de seus clientes, que logo eu descobri que era o Google. Em pouco mais de uma hora, vomitei tudo o que eu sabia, enquanto todos na sala se mostravam muito interessados em absorver cada informação, sempre trazendo novas indagações. Ao longo dos últimos anos, eu já participei de várias conversas como essa, e a verdade é que sempre saio da sala sem saber no que vai dar. Nesse caso, deu em um projeto muito bacana, o qual foi compartilhado comigo na semana passada com muito carinho e que hoje posso compartilhar com vocês. 

Entre 1941 a 1979, as mulheres foram proibidas de jogar futebol no Brasil. O mesmo aconteceu em outros países, como França e Alemanha. Mesmo impedidas por leis fora dos gramados, muitas mulheres seguiram jogando. Mas as histórias dessas pioneiras no esporte nunca foram contadas ou documentadas por órgãos oficiais.

"Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, dizia o decreto-lei 3.199, art. 54, de 14 de abril de 1941, aplicado no Brasil.

Em busca das histórias e personagens que viveram esse período, o Museu do Futebol e o Google Arts & Culture  lançaram nessa quinta-feira o Museu do Impedimento, uma experiência digital colaborativa para retratar os anos de proibição do futebol feminino no país. A partir de hoje até o dia 23/06, qualquer pessoa poderá compartilhar documentos, como vídeos, áudios, fotos e depoimentos de suas coleções pessoais sobre o futebol feminino.  Basta fazer o upload do material direto nesse site.

A curadoria do conteúdo ficará a cargo da equipe de especialistas do Museu do Futebol. O site será lançado em branco e gradualmente receberá o conteúdo enviado pelos usuários.  Ao final do projeto, esse material ganhará forma também em uma exposição virtual na plataforma Google Arts & Culture.

“O Museu do Futebol acolheu com muito entusiasmo essa iniciativa pioneira do Google de fomentar uma plataforma digital e colaborativa para descobrir novos acervos sobre esse período da história pouquíssimo conhecido. É uma iniciativa que faz com que o futebol se torne ainda mais importante para a história brasileira”, afirma Daniela Alfonsi, diretora de conteúdo do Museu do Futebol.

Lea Campos, a primeira árbitra de futebol
Lea Campos, a primeira árbitra de futebol Acervo Pessoal Lea Campos/Fotógrafo Desc

O Museu do Impedimento terá alguns depoimentos compartilhados por mulheres que foram pioneiras do esporte, como Léa Campos, a primeira árbitra do mundo e presa por 15 vezes durante os anos de proibição, e Mariléia "Michael Jackson" dos Santos, artilheira do futebol brasileiro.

“Queremos dar visibilidade à importância de recuperar a história do futebol feminino no Brasil e garantir que um público mais amplo tenha a oportunidade única de conhecer as histórias dessas mulheres pioneiras que continuaram jogando bola mesmo nos anos de proibição e abriram as portas para as novas gerações”, afirma Lauren Pachaly, diretora de marketing do Google Brasil.


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A taça que precisamos levantar é a do respeito ao futebol feminino

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro
Ada Hegerberg recebe Bola de Ouro
Ada Hegerberg recebe Bola de Ouro The Daily Star

A notícia já era esperada, mas hoje veio a confirmação oficial: Ada Hegerberg, atacante do Lyon e primeira mulher a receber a Bola de Ouro da FIFA, não jogará a Copa do Mundo de 2019, que começa no dia 07 de junho na França. A norueguesa de 23 anos não foi convocada para o mundial por escolha dela mesma: desde 2017 que a jogadora decidiu parar de representar o seu país em protesto ao tratamento desigual e injusto dado pela Federação Norueguesa ao futebol feminino.

A escolha de Ada, assim como a das jogadoras norteamericanas que processaram a Federação de Futebol dos EUA e como a das brasileiras que se afastaram da Seleção em protesto ao processo de demissão da treinadora Emily Lima, são essenciais para que mudanças aconteçam, mesmo que não como resposta direta ao ato em si. Uma das maiores jogadoras do mundo na atualidade pode estar abrindo mão de levantar a taça de uma Copa do Mundo, mas ela o faz com a convicção de quem sabe que a conquista maior não se limita a um pódio ou a uma medalhada e ouro.

"Eu sei o que quero e conheço meus valores e, portanto, é fácil tomar decisões difíceis quando você sabe quais são as ambições e os valores que você defende. É tudo sobre permanecer fiel a si mesmo, seja você mesmo”, disse Ada em entrevista à CNN.

A notícia mal saiu e já li comentários questionando se uma atitude como essa fará alguma diferença. Mas eu acredito que não é sobre surtir efeito ou não, é sobre fazer o que precisa ser feito, sobre lutar pelo o que a gente acredita. As mudanças que estamos buscando não são simples nem pequenas, são estruturais e diretamente ligadas a valores culturais que foram semeados e desenvolvidos por muitas décadas. Ter ciência disso não é desculpa para nos conformarmos com a lentidão do processo, mas sim importante para pensarmos em estratégias escalonadas, que sejam viáveis dentro de cada momento e contexto e evoluam ao longo do tempo. É quase como uma caça ao tesouro: primeiro você precisa achar o mapa, depois desvendar os caminhos e enigmas, para então encontrar as peças que te levarão à chave do baú.

Ano passado tive o prazer de participar do ESPNW Summit na California, um evento único e extremamente inspirador que reuniu centenas de mulheres, entre atletas, jornalistas, empresárias e celebridades em dois dias de intensas trocas e aprendizados. E foi lá que eu escutei ao vivo a história exemplar da seleção de hóquei feminina, que acabara de ser campeã dos jogos olímpicos de inverno após ter feito um boicote à Federação em prol de um tratamento mais igual e justo à modalidade feminina no país, e terem sido atendidas apenas poucos dias antes do início do torneio. O ponto principal para o sucesso do boicote foi conseguir o apoio de todas as praticantes de hóquei do país. Afinal, se apenas as jogadoras que estavam na seleção tivessem aderido, seria relativamente simples para a Federação trocá-las por outras jogadoras que estivessem "afim" de jogar. Cientes disso, elas mesmas pegaram seus telefones e ligaram para cada atleta que elas conheciam ao redor do país, construindo assim um movimento consistente o suficiente para não só conseguir as demandas exigidas, como para dar uma força imensa que as levou ao primeiro ouro olímpico desde que a modalidade foi incluída nos Jogos. 

Hockey National Team at ESPNW Summit 2018
Hockey National Team at ESPNW Summit 2018 Robby Klein for ESPN

2019 está sendo um ano diferente para o futebol feminino no Brasil, mas precisamos ter cuidado para não depositarmos expectativas impossíveis e acabarmos nos frustrando e desistindo. É claro que precisamos aproveitar a oportunidade que esse período de visibilidade e início de investimentos proporciona, mas com a consciência de que ainda tomaremos muitos nãos, de que ainda sofreremos com assédios, preconceitos e negligências, e que os frutos maiores só serão colhidos no longo prazo. 

Fico triste de saber que não verei a Ada jogando ao vivo na França, mas feliz e grata por saber que o futebol feminino possui atletas com tamanha consciência e coragem. Tenho certeza que ela não só ajudará a modalidade a ser vista e tratada com mais respeito, como inspirará muitas outras meninas e mulheres a não se calarem diante das injustiças e a lutarem pelos nossos direitos.

Fonte: Júlia Vergueiro

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A taça que precisamos levantar é a do respeito ao futebol feminino

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Adversárias difíceis e craques lesionadas: uma análise sobre a preparação do Brasil para a Copa do Mundo na França

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro

Falta pouco mais de 1 mês para a 7ª edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino, e muitas críticas vem sendo direcionadas à equipe brasileira, em especial à comissão técnica liderada por Vadão.

Eu peço cuidado. Cuidado, pois na era dos 140 e poucos dígitos em que vivemos hoje, podemos cair na injustiça de avaliar contextos complexos de forma rasa e simplista. Quando lemos manchetes estampando “9 derrotas seguidas”, tendemos a enxergar um cenário desastroso, mas que precisa ser analisado de forma mais profunda.

A primeira dessas 9 derrotas aconteceu na metade do 2º semestre de 2018, quando a equipe que em breve será convocada oficialmente para o Mundial ainda estava em formação. Ali, o cenário era bastante crítico: cada jogadora estava em um nível físico diferente, pois jogam em países onde o futebol feminino é amplamente heterogêneo entre si. Cristiane, principal atacante da Seleção, maior artilheira das Olimpíadas, voltava de um período complicado na China, onde ela mesma afirmou ter tido dificuldades com nutrição e preparação física.

Além disso, é preciso lembrar que a estratégia de preparação para a Copa adotada pela comissão foi propositalmente a de enfrentar seleções mais bem rankeadas que o Brasil, com o intuito de trazer maturidade às jogadoras que ainda não tinham tanta familiaridade com esse nível de competitividade.

A única exceção a isso ocorreu nos últimos dois amistosos, realizados no início de abril, contra Espanha e Escócia. No entanto, diferente do que muitas pessoas que não acompanham o futebol feminino podem pensar, essas duas seleções encontram-se também em um nível muito competitivo.

A Escócia, apesar de estreante em Copas do Mundo, possui um elenco quase todo formado por atletas que jogam no campeonato inglês, uma das ligas femininas mais fortes do mundo. Soma-se a isso o fato de que o governo escocês, entusiasmado com a classificação da sua equipe nacional para o Mundial, anunciou em setembro de 2018 uma ajuda financeira de 80 mil libras para que as jogadoras pudessem treinar em período integral a partir de janeiro de 2019 visando a competição na França.

Sabemos que os resultados não foram bons. Ninguém gosta de perder, muito menos as jogadoras. Mas, mesmo assim, o desempenho ao longo dos vários meses de preparação vem crescendo, e é possível enxergar um padrão de jogo focado na marcação forte para a roubada de bola e transição rápida para o ataque. Mas o mesmo só virá a acontecer com excelência e resultar em placares positivos quando tivermos a equipe toda no auge do seu potencial, como aconteceu em abril quando a Seleção levantou o caneco da sua sétima Copa América. A própria Marta só iniciou sua pré-temporada no Orlando agora, pois voltou de lesão recente, além de Cristiane, Ludmila e Bia Zaneratto que também se recuperam e por isso não estiveram nos últimos amistosos.

2019 tem sido um ano diferenciado para o futebol feminino no Brasil. Mais visibilidade e novos investimentos tem trazido esperança àquelas que há tanto tempo se dedicam à modalidade. Mas é preciso ter calma: nada se resolve em apenas um ano. Acredito que esse seja o início de uma mudança que, em alguns anos, não terá mais volta e transformará de vez a realidade difícil em que nos encontramos há décadas. Não podemos criar a expectativa de que tudo se resolverá agora, e muito menos achar que um resultado ruim na Copa invalidará esse processo evolutivo.

No dia a dia, vamos trabalhar. Em junho, vamos torcer. Em alguns anos, vamos nos orgulhar.

Fonte: Júlia Vergueiro

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Adversárias difíceis e craques lesionadas: uma análise sobre a preparação do Brasil para a Copa do Mundo na França

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A história que faz história: primeira exposição a céu aberto do futebol feminino brasileiro invade a Av. Paulista

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro

Jogadoras da Seleção ganham visibilidade em exposição inédita na Av Paulista
Jogadoras da Seleção ganham visibilidade em exposição inédita na Av Paulista Nike.com


Ontem foi um daqueles dias em que as lágrimas não pedem licença.

Ouvindo a Daniela Alfonsi, diretora cultural do Museu do Futebol, falar sobre todo o caminho que elas – e todas nós – percorremos pra chegar nesse dia histórico, meu coração e meus olhos transbordaram de alegria.

Como diria Ludmilla: “pode parecer clichê”, mas foi assim que eu me senti durante todo o tour guiado que fizemos nessa noite de 5ª feira na Avenida Paulista, para conhecer a primeira exposição a céu aberto sobre o futebol feminino brasileiro. Parecia mentira que eu estava ali, e ainda por cima acompanhada de pessoas com vozes fortíssimas que com certeza farão toda essa história chegar em milhares de pessoas, como deve – e precisa - ser.

Minha emoção não foi à toa. Quem trabalha com o futebol feminino convive com o constante conformismo de que “não vamos viver pra ver” os frutos daquilo que estamos plantando hoje com tanto suor e amor. Mas ontem não foi assim. Ontem eu vi um trabalho que começou há 4 anos, quando o Museu iniciou o árduo desafio de pesquisar e construir um acervo do futebol feminino, tomando agora a avenida mais poderosa do Brasil. Eu vivi pra ver!

Pra nós, que estamos acostumadas a dizer que o futebol feminino evolui a passos lentos, quão gigante é ver Andressinha, Andressa Alves, Bia Zaneratto brilhando nos enormes relógios de rua da maior cidade do país? Uma visibilidade mais do que merecida àquelas que ousaram sonhar sem questionar se valia a pena ou não, sem dar ouvidos aos que nunca acreditaram, sem saber onde e se iriam chegar. 

A história da nossa modalidade, antes oculta até mesmo do espaço onde residem todos os registros do futebol brasileiro, agora está escancarada pra quem quiser e pra quem não quiser ver também. Mais do que não esconder que somos também parte da trajetória do esporte mais democrático do mundo, essa exposição caracteriza uma celebração do que tantas mulheres brasileiras fizeram pelo futebol.

Em um momento da humanidade no qual sentimos tanta falta de exemplos, de ídolos, é essencial que possamos reconhecer e vangloriar feitos como o de Léa Campos, a primeira árbitra mulher do mundo. Ela é brasileira e temos que ter um orgulho imenso disso! Dela e da primeira camisa 10 do Barcelona. Dela e da seis vezes melhor jogadora do mundo. Dela e da maior atrilheira das olimpíadas. Elas são sangue verde e amarelo, e nós merecemos poder inspirar as futuras gerações por meio de mulheres como essas.


Lea Campos, a primeira árbitra de futebol
Lea Campos, a primeira árbitra de futebol Nike.com

Fica aqui o meu convite duplo: primeiro – caminhem pela Avenida Paulista e conheçam a primeira exposição a céu aberto sobre o futebol feminino. Segundo – visitem o Museu do Futebol e explorem as diversas peças que contam a história da modalidade que foi proibida no Brasil por quase quatro décadas.

Que nesse Dia Internacional da Mulher possamos celebrar as nossas loucuras e enxergar a genialidade que reside em cada uma delas. Se o amanhã parece impossível, ousemos ao menos sonhar, pois toda grande conquista um dia começou como uma simples fantasia.

Importante: a exposição fica nos relógios e pontos de ônibus da Av Paulista até o dia 11 de março. 

Manifesto: as loucas do futebol
Manifesto: as loucas do futebol Nike.com


Fonte: Júlia Vergueiro

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Com Cristiane no SPFC, será que teremos outras craques voltando para o futebol brasileiro?

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro

Cristiane agora joga no São Paulo.
Cristiane agora joga no São Paulo. Renata Damasio/saopaulofc.net

O anúncio da contratação de Cristiane fez muitas de nós pensar: será que essa é uma tendência para as próximas temporadas? Será que teremos outras craques desse calibre jogando aqui no Brasil? Fui conversar com a própria Cris, com os seus empresários e com a comissão técnica da seleção feminina para entender a visão deles sobre o assunto. Algumas ligações, áudios e mensagens depois, segue aqui um pouco do que pude concluir.

Se os clubes brasileiros quiserem atrair outros grandes nomes como o de Cristiane, precisarão apresentar projetos que garantam às atletas a estrutura completa que elas precisam para trabalhar. No universo do futebol feminino, ficar perto da família é um dos motivos que chama muito a atenção dessas jogadoras, mas não é só isso que fará com que elas voltem de vez ao Brasil.

A competição com os clubes estrangeiros é jogo duro. Países como Espanha, França e Inglaterra já estão há pelo menos 5 anos investindo em oferecer o que toda atleta sonha para atuar – estrutura, salário, competições relevantes e contratos profissionais. Na China, apesar de a estrutura ser bastante atrasada, os salários são praticamente irrecusáveis.

Já concentrada com a seleção na Granja Comary, Cristiane me contou que a decisão de ter voltado foi muito particular, pois preferiu ficar mais perto da família, mesmo tendo recebido propostas de dois grandes clubes europeus.

“Eu acho que a minha volta pode sim fazer com que outras meninas percebam que dá para jogar no Brasil em um grande clube, desde que haja estrutura e tudo o que a atleta necessita para trabalhar. Mas claro que é muito particular de cada um. Eu particularmente vou sempre optar por ficar perto da minha família em situações assim.”

Cristiane Rozeira é a maior artilheira do futebol em Olimpíadas
Cristiane Rozeira é a maior artilheira do futebol em Olimpíadas []

Benito Pedace e Carolina Pohl, sócios proprietarios da Sow Sports, agência de gestão de carreira especializada em atletas profissionais de futebol feminino e hoje responsável pela carreira da atacante tricolor, não acreditam que a volta de atletas para o Brasil venha a se tornar uma tendência, uma vez que os clubes de fora também estão investindo e as competições por eles disputadas são muito relevantes para o cenário internacional e desenvolvimento das jogadoras. Além disso, não são todos os clubes brasileiros que estão de fato interessados em construir um projeto sério e de longo prazo com o futebol feminino.

“Faz dois anos que foi divulgada a nova regra sobre o futebol feminino. A forma como os clubes vem reagindo e se organizando diz muito sobre a cultura interna de cada um, pois a gestão pode ser feita de maneira planejada e com objetivos mais longos, ou de forma reativa, como são os casos dos clubes que estão apenas 'cumprindo as regras'. Aqueles que estão engajados no desenvolvimento da modalidade e categorias de base, poderão se beneficiar da negociação de atletas, venda de produtos específicos, venda de ingressos, mecanismo de solidariedade, patrocínios, entre outros. Ou seja, as mesmas receitas do masculino, podem ser também obtidas no feminino.”

Se os clubes em si podem ainda não ser o grande atrativo para as jogadoras voltarem, estar mais acessível aos olhos da comissão técnica da Seleção pode somar pontos para as equipes do Brasil, pelo menos quando a comparação é com países como a China, onde Cristiane vinha atuando e sofrendo com lesões devido à falta de estrutura médica.

“Quando a jogadora está na China, não é tão fácil para nós assistir aos jogos. Às vezes, só recebemos os jogos editados, com alguns lances. E quando precisamos reunir o grupo, só temos as datas FIFA para tê-las aqui. A gente vê o retorno da Cristiane com muitos bons olhos para o futebol feminino, pois vai gerar mídia e atrair público” – conta Bia Vaz, integrante da comissão técnica de Vadão.

Diante disso tudo, um cenário provável de se repetir é o que ocorreu no final do ano passado envolvendo as jogadoras Andressinha e Camilinha, que voltaram para o Brasil apenas para disputar a Copa Libertadores pela equipe do Iranduba. É a oportunidade de elas passarem uma parte da temporada em casa, perto da família, dos amigos e do relacionamento com o futebol brasileiro, mas sem abdicar de voltar aos seus clubes no exterior.

Se ainda não dá pra sonharmos em ter Marta, Cristiane e Formiga jogando ao mesmo tempo o campeonato brasileiro, certamente dá para acreditarmos que muitos bons frutos serão gerados pela contratação tricolor da maior artilheira do futebol em jogos olímpicos. Antes de encerrar o papo, perguntei à Cristiane como ela mesma enxergava o seu papel no sucesso do projeto apresentado pelo São Paulo:

“O SPFC quer resgatar o que já teve antigamente, na época de Sissi, Katia Cilene, Formiga. E a gente precisa dar continuidade porque a minha geração também vai passar. Vão ter muitas meninas novas no São Paulo e eu vou acabar sendo espelho pra elas. Eu tenho ideias muito bacanas que eu acredito que eu posso ajudar junto à comissão e à diretoria, se houver espaço pra isso. Eu tenho a oportunidade também de conversar com outras meninas que estão fora e tentar atrair elas de volta pro Brasil.”

Eu, como são-paulina e brasileira, só tenho a comemorar por ter de volta ao país e ao meu time de coração uma atleta tão diferenciada, dentro e fora de campo, e que não só ajudará a dar mais visibilidade e qualidade aos torneios nacionais, como terá a tranquilidade e a estrutura necessária para se preparar em alto nível para a artilharia da Copa do Mundo na França. Voa, Cris!

Fonte: Júlia Vergueiro

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2019 tem Copa do Mundo na França e eu vou jogar!

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro

Não é fake news, eu juro! rs
E sabe o que é ainda mais legal? Você pode jogar também!

Calma lá, deixa eu explicar: como vocês já sabem – eu espero – de 07 de junho a 07 de julho de 2019 a França sediará a Copa do Mundo Feminina. Serão 24 seleções em busca da taça que até hoje só foi levantada por quatro nações diferentes*.

Uma das coisas mais bacanas de qualquer grande evento esportivo é o que ele movimenta ao seu redor, e é em uma dessas atividades paralelas que eu terei a oportunidade de bater uma bolinha na mesma cidade e no mesmo período das semifinais e final desse Mundial. E repito: você também pode participar!

Equal Playing Field at Kilimanjaro
Equal Playing Field at Kilimanjaro Equal Playing Field

O Festival of Football é uma iniciativa da organização Equal Playing Field, a qual tem como propósito enfrentar a desigualdade de gênero no esporte e fomentar a prática esportiva para meninas e mulheres em todo o mundo, mas principalmente nas comunidades mais marginalizadas. Essa ONG, criada por três mulheres inglesas - duas ex-jogadoras de futebol e uma empreendedora social – iniciou sua atuação em junho de 2017 já batendo um recorde inédito: 32 mulheres, de mais de 20 países diferentes, subiram o Monte Kilimanjaro para jogar futebol e assim alcançar a marca da partida de futebol jogada no local de maior altitude em toda a história.


Em 2019, a meta volta a ser ousada: reunir 3500 jogadoras, dos mais diversos cantos do planeta, para bater o recorde do jogo de futebol mais longo da história. O recorde atual é de 2.357 pessoas jogando a mesma partida durante quatro dias, sem parar. O foco é que, mais uma vez, a atenção seja chamada para os desafios que meninas e mulheres ainda enfrentam para participar de todos os âmbitos do universo esportivo.

Tive o prazer de conversar diretamente com uma das organizadoras do festival e pude sentir em cada palavra a vontade genuína e poderosa de fazer acontecer. Todos os dias nós, meninas e mulheres, escalamos montanhas e enfrentamos longas caminhadas para conquistarmos nossos sonhos. A representatividade dessas partidas recordes é imensa, e por isso não tive como não topar.

Quem quiser estar nesse grande jogo, que fará parte de uma agenda maior que inclui outras atividades como palestras, filmes e oficinas sobre a temática da igualdade de gênero no esporte, precisa se inscrever no site e aguardar a “convocação”.

 Agora, é contagem regressiva para Lyon: 197 dias. Quem vem comigo?

(*As seleções campeãs desde 1991, por ordem de títulos conquistados: Estados Unidos: 91, 99 e 2015 / Alemanha: 2003, 2007 / Noruega: 95 / Japão: 2011)

 

Fonte: Júlia Vergueiro

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O futebol feminino é uma grande oportunidade para a renovação de que todo o futebol brasileiro precisa

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro

SPFC Campeão Paulista Feminino Sub-17 2018
SPFC Campeão Paulista Feminino Sub-17 2018 Rodrigo Coca/FPF

Na última segunda-feira estive na sede da Federação Paulista de Futebol acompanhando o II Seminário de Futebol Feminino organizado pela entidade. O objetivo ali era mostrar que “fazer futebol feminino não é um bicho de sete cabeças”, como bem colocou na sua fala de abertura a coordenadora de futebol feminino da FPF e ex-capitã da Seleção, Aline Pellegrino.

De fato, os cases de sucesso apresentados mostravam que não só é possível como é interessante aos clubes desenvolverem as suas categorias femininas. A Ferroviária, por exemplo, já possui patrocinadores específicos para o feminino, que enxergam a oportunidade de atingir um público diferente do que conseguiriam com o patrocínio à equipe masculina. O Centro Olímpico por sua vez segue batendo recordes de público nas suas peneiras, as quais nos últimos anos passaram a ser mensais e recebem por volta de 180 meninas em cada edição.

Com mais meninas interessadas e com um modelo de formação estruturado e de excelência, a “mágica” aconteceu. Não é à toa que, desde o ano passado, o São Paulo Futebol Clube resolveu fazer uma parceria com o Centro Olímpico para disputar competições femininas com a camisa do tricolor – já foram quatro torneios e quatro títulos.

As velhas desculpinhas de que não existe interesse por parte de empresas patrocinadoras ou de que não há meninas suficientes interessadas para compor um elenco competitivo já não cabem mais. E também não vale mais dizer que não existe um calendário organizado de torneios – no guarda-chuva da Federação, além do Paulista principal, há dois anos já são disputados o sub-17 e o sub-14 e com a presença dos chamados “clubes de camisa” como Santos e São Paulo. Esse último, inclusive, acabou de ser bicampeão do sub-17 no último domingo.


Pra mim, o maior desafio é aquele que todos nós já conhecemos: o despreparo e a incompetência dos clubes brasileiros pra fazer qualquer coisa que saia minimamente do padrão de “trabalho” já constituído. O problema não é fazer o feminino, o problema é ter que pedir ao velho para fazer algo novo, o problema é o medo de quem já acha que sabe tudo, ter agora que lidar com o desconhecido, mesmo não sendo necessária nenhuma formula mágica. Mas, como o próprio Diretor de Planejamento e Desenvolvimento da Ferroviária, Roberto Braga citou na segunda-feira, “trabalhar dá trabalho”, né?

Se o futebol masculino está do jeito que está, como esperar que esses mesmos gestores consigam desenvolver uma nova modalidade, que por mais similar que seja, possui suas especificidades? Como esperar que os nossos clubes que sofrem para conseguir patrocínio para um “produto” já conhecido o consigam para um “novo produto”? Todas aquelas discussões que afloraram na época do 7x1 podem não estar mais tão em pauta, mas os problemas continuam aí.

Infelizmente, muitas das pessoas que estão à frente dos clubes brasileiros hoje não estão acostumadas nem interessadas em botar a mão na massa. Além disso, existe uma grande falta de preparo e conhecimento sobre o universo da menina e da mulher, mas nada que não possa ser suprido com algo tão básico quanto estudar, pesquisar e se informar. Os profissionais do nosso futebol precisam sair da zona de conforto de ser a nação da bola nos pés e que acha que já sabe fazer tudo, e começar a se capacitar, se atualizar, a buscar conhecimento e inovação pra não ficarmos pra trás.

2019 está batendo à porta, e logo passará a valer a exigência da Conmebol na qual clubes que não tiverem equipes femininas serão proibidos de disputar a Libertadores masculina. Querendo ou não, será a hora de se mexer, e é aí que o futebol feminino pode emergir como uma grande oportunidade para que sejam valorizados os profissionais que de fato estão interessados em construir um esporte de excelência no nosso país. Não existem velhas soluções para novos desafios, e encará-los como oportunidade ou como problema é o que diferencia os competentes do restante.

Seminário Futebol Feminino FPF 2018
Seminário Futebol Feminino FPF 2018 Rodrigo Corsi/FPF


(
Aproveito o espaço para parabenizar a Aline Pellegrino pela organização do II Seminário de Futebol Feminino. Eventos como esse são extremamente necessários para que o conhecimento já existente sobre a modalidade seja compartilhado com aqueles que até então não faziam parte desse universo. A oportunidade para quem realmente quer aprender e se envolver está aí, cabe aos interessados saberem aproveitá-la.)

 

Fonte: Júlia Vergueiro

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Uma história sobre como o esporte ensina meninas a serem corajosas

Julia Vergueiro
Julia Vergueiro

Copa Nescau 2018
Copa Nescau 2018 Pelado Real/Grazielle Franco

“Que oportunidade incrível para ela quebrar esse medo de fracassar. Obrigada!”

Essa foi a frase que a mãe de uma das minhas melhores atletas sub-12 me disse, sorrindo, momentos após vencermos a semifinal da Copa Nescau há cerca de duas semanas. A disputa foi para os pênaltis e a filha dela foi escolhida pra ser a terceira a cobrar. Se ela fizesse, nós estaríamos na final. E ela fez.

No tempo regular, essa mesma atleta havia tido um momento de muito medo. Nós saímos atrás no placar e o jogo estava difícil. Pra piorar, esse era o mesmo campeonato do qual havíamos sido eliminadas ano passado, e ela, sempre muito competitiva, certamente não queria perder de novo. Quando finalmente empatamos, ela começou a se sentir mal. Enquanto comemorávamos o nosso gol, ela chorava e dizia que o estômago estava queimando, e então a levei até a enfermeira enquanto o jogo seguia. Pra conseguir acalmá-la, saímos do ginásio, que naquele momento estava absurdamente barulhento refletindo a emoção da torcida e dos times que lutavam pela vaga na grande final.

Do lado de fora, essa mesma mãe veio nos encontrar e perguntou o que houve. Ela tinha nos visto saindo da quadra e veio correndo da arquibancada ao nosso encontro. Bastou alguns segundos de conversa e ela logo captou o que estava ocorrendo, e não teve dúvidas em dizer: “filha, isso que você está sentindo é vontade de ganhar. Agora volta lá e enfrenta isso porque o time precisa de você”. Nossa pequena craque engoliu o choro e, sem contestar, seguiu direto de volta pro jogo. Minutos depois ela estaria cobrando o pênalti decisivo, com uma convicção única, e correndo pro abraço das colegas pra comemorar a classificação. Adeus, medo. Hoje, eu te venci.

Mesmo depois de vencermos a final e levarmos o título histórico pra casa, em uma partida que mereceria um texto à parte, esse foi o momento que mais me marcou. Essa mãe soube mostrar à sua filha que a gente nunca vai saber o tamanho do nosso medo até enfrenta-lo, e que ter a coragem de fazê-lo é o que mais importa.

Essa história não é sobre o sabor da vitória, é sobre o processo de encarar um desafio de frente. É sobre não desistir quando achamos que iremos fracassar.

(Os pênaltis da semifinal da Copa Nescau 2018) 

Quantas vezes na vida nós, mulheres, tomamos uma atitude verdadeiramente corajosa? Quantas vezes fazemos uma escolha sem nos preocupar em sermos perfeitas naquilo? Meninas não são ensinadas a arriscar, e assim nos tornamos mulheres habituadas a buscar apenas os caminhos em que já sabemos que somos boas.

E não é que não sejamos boas para as outras opções, mas não estamos acostumadas a enfrentar desafios. Estamos acostumadas a sermos ótimas, excelentes, e por isso desistimos mais rápido quando lidamos com uma situação na qual achamos que não vamos atingir esse nível de perfeição.

“Um relatório da HP descobriu que homens candidatam-se a um emprego se atenderem apenas 60% dos pré-requisitos. Mas as mulheres? As mulheres se candidatam apenas se tiverem 100% dos pré-requisitos”. Escutei esse dado em um TED intitulado “Ensine coragem às meninas, não perfeição”, apresentado pela empreendedora Reshma Saujani, fundadora do “Girls Who Code”, um projeto que educa meninas a aprenderem a programar, uma função de pura tentativa e erro.

O esporte é uma ferramenta maravilhosa para ensinar nossas meninas a serem corajosas. A enfrentarem o medo de entrar em quadra, diante de centenas de torcedores, e correr o risco de não ganhar. A arriscar um chute ou um drible diferente, mesmo sabendo que pode não dar em nada ou que pode até acabar gerando um contra-ataque pras adversárias. A escolher bater o pênalti decisivo e carregar nas costas o peso de poder ser quem salvou ou quem desperdiçou o sonho do time e de toda a torcida.

Metade da população mundial é feminina. Se estamos criando as meninas para serem perfeitas e os meninos para serem corajosos, estamos desperdiçando 50% do potencial da nossa humanidade. Logo, comecemos hoje a fazer como a mãe da minha atleta e digamos às meninas que conhecemos para encararem seus medos de frente e sentirem que o sabor da coragem é muito mais gostoso do que o da perfeição.


Fonte: Júlia Vergueiro

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