Gabi Garcia, 4x campeã do ADCC
Jiu-Jitsu in Frames
Não sei nem por onde começar, mas o resumo de tudo é: eu fui para o ADCC 2019. Em 2017, edição anterior do evento, confesso que eu não dava tanto valor a ele por não entender muito bem, mas algumas coisas me aproximaram. O fato do André Galvão lutar, o meu interesse em acompanhar as lutas femininas e também, o fato de que meu professor me incentivou a isso (‘você não vai escrever sobre no seu blog? É o maior evento de luta agarrada do mundo’. Leia aqui!).
A partir de então, eu passei a ter uma outra visão sobre o ADCC. Logo depois da edição anterior, eu fui para San Diego pela primeira vez, fui até a Atos e tive a chance de entrevistar o professor André– que tinha acabado de vencer sua terceira superluta consecutiva, contra o Calasans.
Neste ano, o ADCC (que acontece a cada dois) foi em Anaheim, na Califórnia. E eu fui! Sim, in loco. Eu estava lá (queria usar uns emojis ou stickers). Era algo inimaginável para mim, ainda mais sendo em outro país. Mas foi uma oportunidade incrível poder estar no evento ao lado da Lisa Albon, que possibilitou tudo isso e é uma das fotógrafas mais incríveis que conheço (a foto abaixo é dela <3).
Assistir o ADCC praticamente no tatame: done!
Lisa Albon
Para quem não sabe, além de trabalhar full time na ESPN, eu tenho um canal no YouTube chamado Jiu-Jitsu in Frames. Na verdade, ele está (ou estava) um pouco parado (dá muito trabalho fazer tudo e ainda treinar, trabalhar e tentar ter vida pessoal hahaha) e eu tinha pensado inicialmente em fazer um conteúdo para dar uma movimentada nele, mas não rolou. A Flograppling tem 100% dos direitos de imagem, então tínhamos várias restrições e eu me restringi a tirar fotos, algo que não tenho muita experiência e muito menos uma lente fodástica para isso – mas foi sensacional.
Eu consegui alimentar bastante o Instagram do JJIF, conheci várias pessoas legais e estava me sentindo no meu mundo, porque eu amo muito estar no meio do jiu-jitsu. Eu pude unir os meus dois mundos, que é minha profissão e meu hobby <3.
Megaton e a neta, Moa
Jiu-Jitsu in Frames
Além disso, depois do evento consegui fazer mais uma entrevista com o André Galvão e outra com o Michael Liera, que é um faixa preta lá da Atos que está de mudança para o Colorado e vai abrir sua própria academia. A do André está no ar. Do Liera estou com problemas técnicos (torçam por mim).
Tá, mas depois de escrever tanto, eu vim dizer algumas coisas observei depois do evento. Vamos lá!
Obs: opiniões pessoais.
ADCC não é jiu-jitsu
Sim, eu sou do jiu-jitsu e tendo a achar que o ADCC é jiu-jitsu, mas me dei a chance de mudar. Depois de algumas lutas, vi pessoas comentando coisas que eu chamaria de ‘sem conhecimento de causa’. Uma delas foi o fato de o Nick Rodriguez ter vencido do Mahamed Aly logo na primeira luta (+99kg). “Caramba, como pode um faixa azul de jiu-jitsu vencer um faixa preta?”.
É polêmico, apesar de incomum, mas pode! Principalmente porque o ADCC não é jiu-jitsu (e ainda se fosse jiu-jitsu, poderia, mas é um outro papo). Como o público do jiu-jitsu é infinitamente maior e inclusive a maioria dos atletas são faixas pretas de jiu-jitsu, as pessoas às vezes esquecem que no gi é muito diferente. E esquecem ainda de um detalhe: wrestling.
E mais que isso: Nick Rod é norte-americano. Nos Estados Unidos, o wrestling é algo comum. Ele tem hoje 23 anos, é wrestler desde a high school e treinou também na faculdade. Hoje, ele treina jiu-jitsu também (e recebeu a faixa roxa no pódio). E mais do que treinar, ele é da Renzo Gracie, de Nova York, e está ao lado de atletas como Garry Tonon e Gordon Ryan – considerado o melhor grappler da atualidade.
Durante sua preparação, além dos treinos no Renzo, ele também manteve-se treinando wrestling no New Jersey Regional Training Center. Então, embora os resultados de algumas lutas tenham sido muito contestados... a história vai muito além de ‘perdeu para um faixa azul’, né.
Nick Rodriguez
Jiu-Jitsu in Frames
Tye Ruotolo: só se surpreendeu quem não conhecia
Vamos falar do 'prodígio' Tye Ruotolo. Vi muita gente antes do evento um pouco inconformada por Tye ter sido convidado a participar. 16 anos, faixa azul e juvenil, num shark tank. E aqui talvez o que tenha pesado mais para as polêmicas nem tenha sido a faixa, mas a idade - apesar de falarem muito de faixa também.
Minha opinião é: só ficou surpreso com a atuação de Tye quem nunca tinha o visto em ação. Ele e o irmão, Kade, treinam desde a barriga da mãe. Se pensarmos na nova geração de atletas, eles têm cerca de 10 anos de jiu-jitsu, o tempo médio que se leva para pegar uma faixa preta. Ou seja, não é um bicho de sete cabeças.
Tye esteve lá porque fez por merecer, ponto. E se ele não tivesse condições, certamente o professor, André Galvão vetaria. E um adendo aqui sobre coach: esse foi o ADCC que mais se viu atletas da Atos lutando. Então tinha muito faixa preta para ser coach dele lá. E quem estava gritando para ele? O irmão. Achei sensacional. Na entrevista com o Galvão, ele falou sobre isso, algo como precisar deixar os alunos darem coach para os outros porque só assim eles crescerão, como atletas e como coaches. E Kade esteve o tempo todo nos treinos de Tye, estava ciente daquilo.
O ponto fraco foi ele ter precisado fazer as duas primeiras lutas com atletas da mesma equipe, algo que não aconteceria na IBJJF. Ele venceu a primeira de Bruno Frazzato e em seguida, de Pablo Mantovani. Fez uma semifinal de tirar o fôlego com o Kennedy, onde não dava para achar que em algum momento ele não ia encaixar um triângulo de mão, mas acabou sendo derrotado.
Na disputa de terceiro lugar, ele enfrentou um dos atletas mais frios e calculistas do jiu-jitsu, Paulo Myiao. Só contra a elite, o faixa azul juvenil deu trabalho. Daqui dois anos, com 18, acho que ele estará ainda mais preparado (fisicamente falando) para voltar e fazer as pessoas entenderem melhor o que ele estava fazendo por lá agora.
Tye Ruotolo vs Pablo Mantovani
Jiu-Jitsu in Frames
Livia Giles no corner do 'heel hooker'
Vou ser honesta: eu não sabia que Lachlan Giles era 'casal' de Livia Giles - porque para mim, ela era a 'Gluchowska' e não 'Giles', hahaha eu nunca ia relacionar. Mais do que isso, eu não sabia muito sobre eles, e na verdade nem sei (fica aí o invite para uma entrevista, vou formalizar prometo). Mas uma breve explicação é que eles são casados, atletas da Absolute MMA na Austrália e os dois lutaram o ADCC.
Lachlan foi derrotado no peso (77kg) por Lucas Lepri por 3 a 0 ainda nas oitavas de final. Livia foi finalizada por Bia Basílio (campeã na categoria até 60kg) nas quartas.
Ok, passou. Mas o que me chamou a atenção (que foi quando eu descobri que eles eram um casal) foi ter percebido a falta de corners mulheres. Geralmente, mulheres ficam no corner de mulheres. Então por exemplo, a Letícia Ribeiro estava no corner da Bia Mesquita e a Luana Alzugir, da Baby. Mas a Livia estava no corner do Lachlan e eu nunca tinha visto uma mulher oficialmente no corner de um homem. Achei isso muito significativo!
Mais que isso, com seus 77kg, Lachlan surpreendeu no absoluto. Com três heel hooks, ele venceu Kaynan Duarte (campeão da categoria +99kg), Patrick Gaudio (+99kg), perdeu para Gordon Ryan (campeão absoluto) e venceu Mahamed Aly (+99kg) na disputa de terceiro lugar. Sim, isso foi surpreendente.
Mas o que quero mesmo falar é o quanto achei incrível o incentivo da Livia durante todas as lutas. Ela gritava demais quando ele ganhava, sério. E na disputa de terceiro, eles correram para o abraço <3.
Categorias femininas
Pois bem, não podia deixar de falar sobre isso. Apesar do ADCC existir desde 1998, a primeira participação das mulheres foi só em 2005. As categorias eram como as de hoje (até 60kg e acima de 60kg), com o plus do absoluto - que não existe mais.
Em 2007, as categorias cresceram: 55kg, 60kg, 67kg, acima de 67kg e absoluto. Nos últimos dez anos, as categorias novamente foram reduzidas para as 60kg e +60kg e segue sem o absoluto.
Mo Jassim, organizador do ADCC disse em entrevista ao podcast 'The Matburn' que está trabalhando para um crescimento. "Sinto que neste ponto do jiu-jitsu, as mulheres estão crescendo. Tem muitas mulheres talentosas. Eu sei disso, porque eu podia convidar mais cinco ou seis garotas agora, fácil".
Ele ainda disse ter feito uma enquete no Instagram perguntando se seria melhor criar outra divisão para mulheres ou aumentar de 8 para 16 competidoras nas duas já existentes. A maioria escolheu adicionar uma nova categoria e manter o número de competidoras em cada uma delas. O que, de fato, é louvável. A diferença de peso da categoria até 60kg pode ser dura, mas acima de +60kg é ainda mais dura, porque a atleta pode ter 60kg ou 160kg... Então é de se pensar.
“Como eu disse, precisamos ter paciência com as coisas. As coisas para o ADCC precisam de tempo para acontecer e já mudamos algumas coisas neste evento”, completou Mo Jassim, que foi confirmado como head para a edição de 2021.
Durante o podcast, ele também ressaltou diversas vezes que o objetivo principal é fazer ‘um bom show’ e o melhor para todos. Isso pode dar mais esperanças de vermos novas categorias femininas no ADCC 2021.
Bia Basílio, campeã da categoria até 60kg
Jiu-Jitsu in Frames
Por fim, o que tenho a dizer é que foi um PUTA evento! Eu nunca tinha acompanhado e me surpreendi. Foi a maior satisfação ter estado lá e ter recebido tantos prints durante as lutas falando 'ei, tô te vendo aqui', hahaha. Sim, quase tomei várias quedas, fui amassada e tudo mais. Mas valeu a pena.
2021: já dá pra pensar? Não sei. Se nem o André Galvão sabe ainda se a superluta vai acontecer, quem sou eu para saber se estarei lá? Na verdade só falei isso para divulgar a última parte da nossa entrevista aqui! Hahaha até a próxima.
Rescisão de Jean no São Paulo é um lembrete social, é um problema nosso. Temos que debater!
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