Com Cristiane no SPFC, será que teremos outras craques voltando para o futebol brasileiro?
O anúncio da contratação de Cristiane fez muitas de nós pensar: será que essa é uma tendência para as próximas temporadas? Será que teremos outras craques desse calibre jogando aqui no Brasil? Fui conversar com a própria Cris, com os seus empresários e com a comissão técnica da seleção feminina para entender a visão deles sobre o assunto. Algumas ligações, áudios e mensagens depois, segue aqui um pouco do que pude concluir.
Se os clubes brasileiros quiserem atrair outros grandes nomes como o de Cristiane, precisarão apresentar projetos que garantam às atletas a estrutura completa que elas precisam para trabalhar. No universo do futebol feminino, ficar perto da família é um dos motivos que chama muito a atenção dessas jogadoras, mas não é só isso que fará com que elas voltem de vez ao Brasil.
A competição com os clubes estrangeiros é jogo duro. Países como Espanha, França e Inglaterra já estão há pelo menos 5 anos investindo em oferecer o que toda atleta sonha para atuar – estrutura, salário, competições relevantes e contratos profissionais. Na China, apesar de a estrutura ser bastante atrasada, os salários são praticamente irrecusáveis.
Já concentrada com a seleção na Granja Comary, Cristiane me contou que a decisão de ter voltado foi muito particular, pois preferiu ficar mais perto da família, mesmo tendo recebido propostas de dois grandes clubes europeus.
“Eu acho que a minha volta pode sim fazer com que outras meninas percebam que dá para jogar no Brasil em um grande clube, desde que haja estrutura e tudo o que a atleta necessita para trabalhar. Mas claro que é muito particular de cada um. Eu particularmente vou sempre optar por ficar perto da minha família em situações assim.”
Benito Pedace e Carolina Pohl, sócios proprietarios da Sow Sports, agência de gestão de carreira especializada em atletas profissionais de futebol feminino e hoje responsável pela carreira da atacante tricolor, não acreditam que a volta de atletas para o Brasil venha a se tornar uma tendência, uma vez que os clubes de fora também estão investindo e as competições por eles disputadas são muito relevantes para o cenário internacional e desenvolvimento das jogadoras. Além disso, não são todos os clubes brasileiros que estão de fato interessados em construir um projeto sério e de longo prazo com o futebol feminino.
“Faz dois anos que foi divulgada a nova regra sobre o futebol feminino. A forma como os clubes vem reagindo e se organizando diz muito sobre a cultura interna de cada um, pois a gestão pode ser feita de maneira planejada e com objetivos mais longos, ou de forma reativa, como são os casos dos clubes que estão apenas 'cumprindo as regras'. Aqueles que estão engajados no desenvolvimento da modalidade e categorias de base, poderão se beneficiar da negociação de atletas, venda de produtos específicos, venda de ingressos, mecanismo de solidariedade, patrocínios, entre outros. Ou seja, as mesmas receitas do masculino, podem ser também obtidas no feminino.”
Se os clubes em si podem ainda não ser o grande atrativo para as jogadoras voltarem, estar mais acessível aos olhos da comissão técnica da Seleção pode somar pontos para as equipes do Brasil, pelo menos quando a comparação é com países como a China, onde Cristiane vinha atuando e sofrendo com lesões devido à falta de estrutura médica.
“Quando a jogadora está na China, não é tão fácil para nós assistir aos jogos. Às vezes, só recebemos os jogos editados, com alguns lances. E quando precisamos reunir o grupo, só temos as datas FIFA para tê-las aqui. A gente vê o retorno da Cristiane com muitos bons olhos para o futebol feminino, pois vai gerar mídia e atrair público” – conta Bia Vaz, integrante da comissão técnica de Vadão.
Diante disso tudo, um cenário provável de se repetir é o que ocorreu no final do ano passado envolvendo as jogadoras Andressinha e Camilinha, que voltaram para o Brasil apenas para disputar a Copa Libertadores pela equipe do Iranduba. É a oportunidade de elas passarem uma parte da temporada em casa, perto da família, dos amigos e do relacionamento com o futebol brasileiro, mas sem abdicar de voltar aos seus clubes no exterior.
Se ainda não dá pra sonharmos em ter Marta, Cristiane e Formiga jogando ao mesmo tempo o campeonato brasileiro, certamente dá para acreditarmos que muitos bons frutos serão gerados pela contratação tricolor da maior artilheira do futebol em jogos olímpicos. Antes de encerrar o papo, perguntei à Cristiane como ela mesma enxergava o seu papel no sucesso do projeto apresentado pelo São Paulo:
“O SPFC quer resgatar o que já teve antigamente, na época de Sissi, Katia Cilene, Formiga. E a gente precisa dar continuidade porque a minha geração também vai passar. Vão ter muitas meninas novas no São Paulo e eu vou acabar sendo espelho pra elas. Eu tenho ideias muito bacanas que eu acredito que eu posso ajudar junto à comissão e à diretoria, se houver espaço pra isso. Eu tenho a oportunidade também de conversar com outras meninas que estão fora e tentar atrair elas de volta pro Brasil.”
Eu, como são-paulina e brasileira, só tenho a comemorar por ter de volta ao país e ao meu time de coração uma atleta tão diferenciada, dentro e fora de campo, e que não só ajudará a dar mais visibilidade e qualidade aos torneios nacionais, como terá a tranquilidade e a estrutura necessária para se preparar em alto nível para a artilharia da Copa do Mundo na França. Voa, Cris!
Fonte: Júlia Vergueiro
Com Cristiane no SPFC, será que teremos outras craques voltando para o futebol brasileiro?
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