Melhor game de F1 já feito, F1 2019 é, também, mais do mesmo
Farei revisões de todos os lançamentos esportivos para PlayStation 4 e XBox One neste blog. Em todos, a mesma pergunta será feita ao final do texto: vale a pena comprar com preço cheio, especialmente se você já tem a versão do ano anterior?
Chegamos a um ponto no qual a evolução dos motores físicos e gráficos é tamanha que pouca coisa pode mudar de um ano para o outro nesse tipo de lançamento. Antes de entrarmos nessas questões existenciais, vamos à revisão de fato para fazer jus ao título do review – que, embora contraditório, faz sentido.
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Quando tinha 6 anos, era fanático por Fórmula 1. Enchi o saco de minha mãe de tal forma que ela resolveu me dar de presente de aniversário um volante para jogar os games de corrida no PC – um amigo trouxe dos Estados Unidos, onde era possível comprar um em vez dos preços absurdos que tínhamos aqui, mesmo com o dólar 1:1 em relação ao real. Meu grande problema era conseguir configurar o tal volante para jogar com o Grand Prix 2 e F1 Racing, dois dos mais famosos games do gênero na metade da década de 1990. Mesmo quando conseguia, não era muito bom no jogo – normal para uma criança, convenhamos.
A evolução dos jogos do gênero se deu de maneira concomitante à minha própria evolução jogando tais games. No início, não conseguia jogar sem assistência de freio, controle de tração e marchas no automático. A primeira coisa que consegui fazer foi jogar sem assistência de freio. Depois, comecei a passar a marcha no manual. Por fim, jogando hoje em dia com pedal e volante, o controle de tração que faz o carro rodar e virar um demônio se você acelera forte sem ele.
Houve evolução dos jogos também? Sim. Desde o início da década, a Codemasters tem a exclusividade dos jogos de Fórmula 1 com os circuitos, equipes e pilotos do Campeonato Mundial. É "mato curto" para poder fazer coisas diferentes que permitam mais abrangência em modos de jogo, mas mesmo assim a produtora vem se esforçando para tal, como já veremos.
Simulação?
Que fique claro: F1 2019 não é um simulador tão fiel à realidade. Ele deixa a desejar para os Automobilistas, rFactos, iRacing e etc da vida especialmente no quesito de acerto de carros. Se você quiser se sentir como Nelson Piquet ou Niki Lauda nesse sentido, o F1 2019 não é o jogo para você. De toda forma, nem deveria ser. Esse é o custo "comercial" que a Codemasters paga para que o jogo seja viável. Há certos elementos arcade, por exemplo. Ele acaba sendo um jogo que vai agradar àquele que gosta de jogos de corrida, àqueles que assistem apenas às corridas de domingo e alguns que são fanáticos por Fórmula 1 a ponto de saber que a Andrea Moda é a pior equipe da história da categoria.
Contudo, quem gosta mesmo de um simulador pode não ficar plenamente satisfeito. Há modelos de F1 em outros jogos – alguns nem tão hardcores em termos de simulação, como Gran Turismo Sport – que são mais fiéis à realidade. Ainda, no quesito simulação, os danos dos carros deixam muito a desejar – algo que deve ser até exigência da FIA.
O conteúdo a mais: os carros clássicos
Ontem fui almoçar com amigos num restaurante alemão aqui em São Paulo. O prato principal estava delicioso, mas o que mais me deixou satisfeito foi a sobremesa: um apfelstrudel com chantilly – igual àquele que o Hans Landa come em Bastardos Inglórios. Se bobear, foi o que mais gostei no almoço. Não, pensando bem, foi. A analogia aqui faz sentido quanto aos carros clássicos disponíveis no jogo. São uma deliciosa sobremesa.
É algo que a Codemasters faz desde a Era 360/PS3 – mas que agora podemos dizer que chegou ao ápice. Salvo modelos dos anos 1950 e 1960, a maior parte das gerações está contemplada. O plus da edição 2019 faz referência à temporada 1990, auge da rivalidade e disputa entre Alain Prost e Ayrton Senna. Seus bólidos naquele ano que terminou de maneira polêmica na primeira curva de Suzuka estão presentes na edição "Legends" do jogo e como DLC a parte para quem tiver a versão normal ou "anniversary", que foi a que testamos para o blog.
De resto, mais do que já tínhamos antes. Sinto falta da Ferrari de 1995, com um ensurdecedor motor V12 que soava como poesia para meus ouvidos – mas, de resto, boa parte dos bólidos que fizeram história na Fórmula 1 estão presentes. Segue a lista:
Década de 2000: 2010 Red Bull RB6, 2010 Ferrari F10 (F1 2019 Legends/Anniversary Edition bonus), 2010 McLaren MP4-25 (F1 2019 Legends/Anniversary Edition bonus), 2009 Brawn BGP 001, 2008 McLaren MP4-23, 2007 Ferrari F2007, 2006 Renault R26, 2004 Ferrari F2004, 2003 Williams FW25
Década de 1990: 1998 McLaren MP4-13, 1996 Williams FW18, 1992 Williams FW14, 1991 McLaren MP4/6
Década de 1980: 1990 Ferrari F1-90 (F1 2019 Legends Edition bonus), 1990 McLaren MP4/5B (F1 2019 Legends Edition bonus), 1988 McLaren MP4/4, 1982 McLaren MP4/1B
Década de 1970: 1979 Ferrari 312 T4, 1978 Lotus 79, 1976 Ferrari 312 T2, 1976 McLaren M23D, 1972 Lotus 72D
Modo Online: a bagunça de sempre
Detesto jogar games esportivos fora o FIFA quando o assunto é o ambiente online. Embora o Gran Turismo Sport tenha criado uma mecânica de reputação que deixa as corridas online mais limpas e o F1 2019 tenha algo parecido com isso, simplesmente não funciona e já há algum tempo é o caso. Se você quer jogar online este não é o jogo para você. Em literalmente todas as corridas online que disputei houve colisões absurdas na primeira curva. Em algumas, um carro que girou ficou no meio da pista só com o intuito de atrapalhar quem ainda estava correndo. Foi uma experiência horrível e confesso que não estou surpreso em me desapontar com ela.
Fora, claro, a questão do lag. Os carros dos oponentes parecem fazer um zig zag curto que atrapalha no vácuo e consequente ultrapassagem em muitas vezes. Nesse quesito, há muito a ser feito. Um servidor no Brasil ainda é um sonho distante como em Madden ou NBA 2k (esses, completamente injogáveis por conta de lag, coisa que o F1 2019 pelo menos não é).
A Codemasters adicionou a possibilidade de customizar os carros no modo ranqueado, mas fora isso precisa endereçar a "boa educação" dos pilotos e principalmente a questão de servidores. Em ambos os casos, sinceramente, me parece algo impossível de vermos resolvido no curto prazo. Afinal, como disse acima, o jogo não é um simulador e menos ainda o será na modalidade online.
A novidade do modo carreira: a Formula 2
Enquanto outros games do gênero como Project Cars 1 e 2 apresentavam a possibilidade de começar "lá atrás" no kart, o modo carreira da série da Codemasters sempre começou já na Formula 1. Isso tirava um pouco a imersão e foi endereçado nesta edição. Você agora começa – se quiser, se não pode pular direto para a F1 – na categoria de acesso, onde há rivalidades e "eventos" durante a temporada. Não se preocupe: é bem rápido, matei tudo em uma hora. De toda forma, recomendo que você dê uma olhada. É incrível como um carro de F2 é bem mais difícil de guiar do que um de F1 – até por ter anos luz menos aerodinâmica. Se você, no braço, treinar bastante com um bólido de F2, terá mais facilidades depois. Aqui, abaixo, dá para ver como tive que guiar o mais limpo o possível para fazer uma ultrapassagem.
Testando os carros de F2 para o review do F12019. Nesta semana o review no blog e nos eSports do site da ESPN pic.twitter.com/658KZ9P5qb
— Antony Curti (@CurtiAntony) 14 de julho de 2019
O primeiro evento se dá em Barcelona, com seu carro tendo problemas e a equipe ordenando que você deixe seu companheiro de equipe passar, dado que o carro dele está inteiro e pode buscar mais pontos para sua equipe. Como não é de minha personalidade deixar o cara passar fácil assim, não cumpri a ordem e ele não passou – pelo contrário, eu fiquei em segundo e ele ficou em quarto. Esse tipo de decisão bem como suas respostas em entrevistas – algo que já tínhamos no ano passado –lhe dão uma reputação de "showman" ou "cara legal". Essa reputação é importante porque cada equipe da F1 prefere um tipo ou outro. A Ferrari prefere o showman – a Mercedes, o cara legal.
De resto, tudo o que já tínhamos na edição 2018 está lá. A árvore de melhorias no carro, por exemplo, segue por lá – onde você pode gastar os pontos ganhos no modo carreira em melhorias no motor, chassi e aerodinâmica para fazer sua equipe mais competitiva. As entrevistas, como também mencionei acima, também seguem no jogo e adicionam em imersão.
É gratificante ver como as produtoras de games esportivos estão cada vez mais colocando elementos de RPG em seus "modos carreira" e aqui não foi diferente. Demoraram para entender como esses recursos são importantes para imersão mas, felizmente, eles viraram algo definitivo em jogos que simulam esportes. Ainda bem.
Tenho o F1 2018, vale a pena?
Não. A menos, claro, que você faça muita questão dos carros e pilotos atualizados para a temporada 2019. Além das pequenas mudanças do modo carreira e um motor gráfico mais limpo – especialmente no que tange à iluminação – o game não mudou tanto assim da edição anterior para esta. A adição da rivalidade Senna/Prost é um elemento interessante e até mesmo ligeiramente replicada no início do modo carreira. Mas não é o suficiente para empolgar de verdade um fã casual que já tenha a edição anterior.
Sinceramente, a menos que você seja muito fã hardcore ou tenha se empolgado com a adição da F2, eu recomendaria que esperasse uma promoção para adquirir o game em sua versão 2019. Como dito no início do texto, chegamos nessa eterna discussão de sexo dos anjos: será que um modelo de "subscrição" não faria mais sentido para jogos esportivos do que temos com os lançamentos anuais? Porque chegamos ao ponto que o mato está todo cortado e fica difícil, de verdade, colocar coisas novas a todo ano. A não ser que você faça o que a própria Codemasters já fez: tira um elemento do jogo, fica sem ele na geração seguinte e adiciona como novidade anos depois. Foi assim com os carros clássicos, por exemplo.
De toda forma, temos o lado bom disso: como jogador da série desde os primórdios e como alguém que joga games de corrida desde o Grand Prix 2 no PC e os F1 World Grand Prix da vida no Nintendo 64, este é o melhor jogo de F1 já feito. Chegamos ao ápice. Agora é saber como a Codemasters vai lutar contra essa complacência em edições futuras.
OBS: Review feito com todas as assistências desligadas (câmbio, freio, controle de tração) e num Logitech G29 no PlayStation 4.
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Melhor game de F1 já feito, F1 2019 é, também, mais do mesmo
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