Crônica: A Redenção de Kevin Durant
O Golden State Warriors ficou atrás em apenas um jogo numa série enquanto dispunham de Kevin Durant em quadra - ano passado contra Houston. Em finais da NBA, embora já tenham vencido o título sem ele na Era Steve Kerr, tinham 9 vitórias e 1 derrota com ele. Sem ele, 8-9. Ficou claro, límpido e cristalino que os Warriors são virtualmente imbatíveis com ele e um time mais mortal sem - embora o "Splash Warriors" seja incrível por si só.
Durant sabia disso quando se juntou aos Warriors na Free Agency. O movimento foi duramente criticado nos Estados Unidos e, aqui no Brasil, chamamos de panela. Eu incluso - você, leitor de longa data, deve saber disso. A meu ver, foi covardia, porque ele sabia que ao se juntar aos Warriors a coisa ia virar um Megazord e ficar imbatível como de fato o foi. Não haveria como derrotar um time com 4 All-Star numa série melhor de 7 jogos.
Recebi mensagens e argumentos em contrário dizendo que seria o mesmo que sair de um emprego e ir para outro melhor. Não vejo como sendo o caso: Durant estava no Thunder, um time de mercado consumidor menor e de torcida apaixonada, na frente por 3-1 na série valendo a Conferência Oeste e, ao perder, juntou-se aos Warriors. Não tem como dizer que foi o movimento mais nobre do mundo. Não tem como dizer que foi algo como Cristiano Ronaldo saindo do Manchester United para o Real Madrid. Ele seguiu o "se não pode com eles, junte-se a eles". Ele o fez e os tornou imbatíveis.
Isso, contudo, de nada mais importa.
Na noite de ontem, Durant teve sua redenção. Jamais poderá ser julgado como alguém que tinha na cabeça apenas a caça a um anel, a dinheiro, a fama ou qualquer coisa que seja. Durant colocou seu corpo na linha, sua carreira na linha, pela chance - apenas pela chance - do time seguir vivo nas Finais. A essência do altruísmo reside em se doar ao próximo sem que haja um bem para si, sem que haja pontos positivos para si. É fato que o título seria importante para ele, mas nessa altura da carreira, ele já tem dois. E especulava-se que KD sequer ficaria nos Warriors para 2019-2020, dado que tem uma cláusula no contrato que lhe permite ser free agent logo menos.
Durant tinha nada a ganhar e tudo a perder. Doou-se pelo time dos Warriors, time este que não parecia mais ser tão seu como outrora. Em novembro do ano passado, no início da temporada regular, reportou-se que durante uma briga normal de vestiário, Draymond Green,supostamente, gritou:
"Vaza daqui, não precisamos de você".
Os Warriors tinham acabado de perder na prorrogação para os Clippers e o clima esquentou. Ante essa situação e ao fato de que em nenhum momento vimos Kevin Durant negar os rumores de que seria free agent, ante os rumores de que o clima não estava legal, ante a questão dele supostamente ter se juntado aos Warriors de maneira artificial só para ganhar títulos, não faria sentido algum que ele arriscasse seu corpo e sua carreira por eles.
Mas o altruísmo não precisa fazer sentido. Nós erramos. Eu errei.
"A TODOS vocês que questionaram meu filho como homem, questionaram seu coração, questionaram sua integridade e seu AMOR pelo basquete, vocês NÃO conhecem-no. Ele tem o coração de um verdadeiro Guerreiro [Warrior]! Isso vai passar. Deus abençoe a TODOS". Poucas pessoas conhecem alguém como uma mãe conhece o filho. Achamos que Durant sequer voltaria nessa série. Ele poderia arriscar a carreira como Kobe Bryant, Isiah Thomas e outros tantos que passaram por lesão de tendão de Aquiles.
Ele não tinha condições de jogo, como ficou claro. Isso não lhe impediu de ter condições de tentar ajudar os Warriors a reascender a esperança.
Paneleiro. Covarde. Fraco. Kevin Durant foi chamado de muitas coisas nos últimos três anos. Só faltou uma palavra que realmente descreveu o que ele fez ontem.
Warrior.
Crônica: A Redenção de Kevin Durant
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