A culpa não é de LeBron James
Cercado de expectativas, Poderoso Chefão III foi rodado com Al Pacino retornando no papel de Michael Corleone e Francis Ford Coppola como diretor. Se você assistiu ao primeiro e ao segundo filme da saga, sabe que o terceiro esteve longe de ser uma continuação digna. Não me entenda errado: não chega a ser um filme ruim. É, apenas, um filme aquém se comparado aos pares da trilogia.
A temporada 2018-2019 do Los Angeles Lakers de LeBron James, considerada por muitos a potencial "sucessora" do Showtime Lakers de Magic Johnson e da Era Kobe/Shaq, virou um grande Poderoso Chefão III. Os ingredientes pareciam estar lá. Mas a execução esteve longe de ser a esperada pela torcida, fazendo com que a seca de pós-temporada siga no lado amarelo e roxo de Los Angeles.
Houve presságios. Um primeiro calafrio pareceu vir quando os Lakers não conseguiram assinar com Paul George, cuja decisão foi de ficar em Oklahoma City ao lado de Russell Westbrook. O segundo presságio do problema veio no momento que, a bem da verdade, nunca houve 4 nomes certos no quinteto titular além de James.
Nesse ponto, é difícil encontrar – ou mesmo procurar – culpados. Naturalmente, as luzes são sempre mais fortes quando falamos de LeBron. Mas seria ele culpado ou vítima? Nenhum dos dois. Numa era na qual a ficção se prende mais a personalidades "cinzas" no que tange a vilões e heróis, não vejo necessariamente um vilão ou um herói em Los Angeles. Até se machucar no natal contra o Golden State Warriors, LeBron saiu de quadra "entregando" um time competitivo na tabela do oeste. O FiveThirtyEight, site irmão ao nosso, listava a equipe com 71% de chance de playoff no dia 22 de dezembro.Foi a última boa brisa que soprou no lado amarelo do Staples Center.
A analogia hollywoodiana segue na medida em que, pela montagem do elenco, os Lakers viraram um Titanic. A densa camada de aço chamada LeBron James impediu que a água entrasse para dentro do casco, mas no momento em que ele cedeu a lesão, tudo ruiu. Se você duvida, veja as estatísticas de Los Angeles antes e depois desse marco zero.
ANTES DE LEBRON MACHUCAR | DEPOIS DE SUA VOLTA | |
CAMPANHA | 20-14 | 8-17 |
PONTOS/JOGO | 113.2 | 111.5 |
PONTOS CEDIDOS/JOGO | 111.0 | 117.6 |
Fica claro como aquele momento foi o derradeiro para que a temporada começasse a ver seu fim. Na analogia, é o Titanic acertando o ice berg. Na sequência, acabou expondo todos os problemas que a maquiagem lebronesca impedia que pudéssemos ver a olho nu – notoriamente a defesa desorganizada que foi "montada" por Luke Walton. Ainda, numa era na qual os três pontos são cada vez mais importantes, o elenco dos Lakers nunca teve um real chutador de alcance maior. A equipe teve a segunda pior média de aproveitamento nos três pontos nesta temporada – apenas os Suns foram melhores. No ano passado? A mesma coisa. É a pior porcentagem na linha dos 3 de um time lebrônico desde os Cavaliers de 2004-2005. Coincidência ou não, a última vez na qual LeBron James não foi para os playoffs.
Depois da lesão, veio o momento em que os Lakers não conseguiram trocar por Anthony Davis. Para complicar o clima, boa parte dos jovens do elenco foram incluídos no "pacotão" da troca que eventualmente não aconteceu. Los Angeles saiu perdendo mesmo sequer havendo uma negociação, dado que não haveria muito clima para continuar após o vazamento da proposta para os Pelicans.
As lesões de Brandon Ingram e Lonzo Ball foram apenas os últimos pregos no caixão e os Lakers seguiram, jogo a jogo, rumo a não-pós-temporada. Antes de Lonzo sair do time – goste você dele ou não – o ESPN Stats and Info listava os Lakers como sétimo melhor time em eficiência defensiva. Após sua saída, caíram para 30º. Ou melhor, último. Sequer consistência do quinteto houve em Los Angeles. Kyle Kuzma, Javale McGee, LeBron James, Brandon Ingram e Lonzo Ball dividiram juntos a quadra em apenas 18 jogos.
LeBron fez sua parte?
Muito se falou e se falará sobre isso, mas a meu ver, sim. A média de pontos/assistências e rebotes combinados por parte do camisa 23 ficou em 44, a melhor de um Laker desde Kobe Bryant em 2005-2006. Ainda, LeBron termina a temporada – já que a diretoria anunciou que ele não joga mais em 2018-2019 – com oito triplos-duplos, melhor marca de um Laker desde Magic Johnson com 13 em 1990-1991.
Há pontos de interrogação sobre James, como sua velocidade neste momento da carreira ou o fato dele ter perdido uma sequência grande de jogos por lesão quando isso nunca tinha acontecido. Mas a verdade é que os Lakers não tinham um Kevin Durant ou coisa do gênero além da camisa 23 em quadra e isso ficou exposto quando James saiu por lesão. Claro, Kuzma e Ingram não foram mal. Mas não era o suficiente. Aí, uma bola de neve virou avalanche. Dentro de quadra, as perdas de Ingram e Ball. Fora, a moral do time abalada pelo fato do elenco parecer (e era) "descartável" por uma chegada potencial de Anthony Davis.
A bem da verdade, a analogia com Poderoso Chefão III funciona até nisso. No filme, não temos a presença de Robert Duvall como Tom Hagen, o conselheiro da família Corleone. Duvall não teria entrado em acordo com a produção do filme quando ao seu cachê. O filme não é abaixo da média da série por conta de Michael Corleone/Al Pacino, ele faz sua parte. Os Lakers não foram abaixo da média por conta de LeBron James. Só que, numa era na qual é quase impossível vencer na NBA sem que haja pelo menos duas estrelas, faltou alguém para LeBron contracenar junto.
A culpa não é de LeBron James
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